
Na quinta-feira,
26 de novembro, a Índia assistiu a maior greve da história da humanidade. Mais
de 250 milhões de trabalhadores e agricultores, com aliados entre estudantes,
mulheres e grupos da sociedade civil, participaram da greve. Mais de uma semana
depois, os lavradores continuam ocupando a capital Nova Delhi e os líderes
trabalhistas prometem que é apenas o começo.
A paralisação
coincidiu com o Dia da Constituição da Índia, que comemora a adoção da
constituição em 1949, e foi resposta a um ataque sem precedentes aos direitos
dos trabalhadores e à proteção dos agricultores pelo governo de direita do
primeiro-ministro Narendra Modi.
As consequências
econômicas da pandemia da covid-19 empurraram a Índia para uma verdadeira
recessão, exacerbando as desigualdades e privações existentes. O produto
interno bruto (PIB) apresentou queda recorde de 23,9%, enquanto o desemprego
disparou para 27% sem precedentes.
Em meio a uma
crise generalizada, o governo de direita liderado pelo Partido Bharatiya Janata
implementou novas emendas aos códigos trabalhistas e introduziu projetos de lei
agrícolas que reverteram os principais avanços históricos nos direitos dos
trabalhadores e proteção agrícola.
“Achhe din (dias
felizes)? Este governo nos empurrou para o inferno!” disse o furioso Sukhdev
Prasad, um operador de máquina de torno em uma das áreas industriais de
Ghaziabad, antes da greve. O desprezo pelo governo Modi e o comentário
fulminante sobre a promessa agora esquecida de tempos melhores, feita pelo
primeiro-ministro, expressam apenas sua raiva latente.
“Quase não
conseguimos sobreviver, esmagados entre os aumentos de preços de um lado e os
baixos salários do outro. Agora, eles mudaram as leis trabalhistas para que os
patrões estejam sentados em nosso peito”, acrescentou, referindo-se aos novos
Códigos do Trabalho que flexibilizaram as regras para demitir trabalhadores,
introduziram mais opções de contratos de trabalho por prazo determinado e
dificultaram a atividade sindical.
Trabalhadores na
capital, Nova Delhi, se juntaram a ondas protestos dos lavradores de estados
vizinhos. Eles estão sendo esmagados pela revogação de Modi das proteções de
preços para suas safras. Milhares de agricultores romperam o bloqueio policial
e marcharam para a cidade nos dias seguintes à greve. A polícia usou
repetidamente canhões de água contra eles, mas não conseguiu quebrar seu
espírito de luta.
Agora, um
impasse intenso entre o governo e os agricultores está em andamento. Na
segunda-feira, 30 de novembro, dezenas de milhares de agricultores acamparam em
três locais, na fronteira de Nova Delhi. Eles vieram preparados – com meses de
suprimentos – e dizem que estão determinados a não voltar até que o governo
Modi ceda.
Os agricultores
continuam com o protesto indefinido sob a bandeira da Samyukta Kisan Morcha
(Frente Unida dos Agricultores) até que as leis agrícolas sejam revogadas. As
três leis provavelmente enfraquecerão a regulamentação existente sobre preços
básicos para produtos agrícolas e mercados de produtos mediados pelo governo e
possibilitarão um papel maior às empresas na agricultura. Muitos criticaram as
leis como um pacote neoliberal feito para o setor agrícola que está em crise há
quase duas décadas.
Inicialmente, a
greve foi organizada por uma coalizão de movimentos de trabalhadores e
agricultores, com 10 confederações nacionais e o grupo guarda-chuva All-India
Kisan Sangharsh [Luta dos agricultores] Coordination Committee (AIKSCC). A
organização consiste em mais de 200 grupos de agricultores em toda a Índia. A
greve também recebeu apoio de partidos de esquerda e vários grupos de oposição.
Algumas das
principais demandas contidas na carta de 12 pontos apresentada pelos
organizadores incluem a revogação das medidas de Modi em relação aos preços
agrícolas e também às trabalhistas. A carta propões também uma reversão nas
recentes políticas de desinvestimento em grandes empresas estatais,
implementação dos esquemas de bem-estar existentes para trabalhadores rurais e
a expansão das políticas de bem-estar para ajudar as massas afetadas pelas
consequências econômicas da pandemia Covid-19.
Os trabalhadores
e lavradores que protestavam enfrentaram uma repressão feroz da polícia em Nova
Delhi, que fez uso repetido de bloqueio. As forças do estado também são
acusadas do uso de cassetetes e canhões de água para impedir a marcha.
Em confrontos
semelhantes com as autoridades, grupos de trabalhadores e agricultores
paralisaram grandes cidades metropolitanas como Calcutá e Mumbai, com protestos
organizados nas principais rotas de transporte. O cinturão de indústria e de
mineração no leste e no centro da Índia também testemunhou uma paralisação
virtual.
Os organizadores
afirmaram que a greve é uma preparação para mais lutas futuras no país. “Os
trabalhadores e camponeses não vão descansar até que as políticas desastrosas e
disruptivas do governo do BJP sejam revertidas. Esta greve é apenas o começo.
Lutas muito mais intensas virão”, disse Tapan Sen, secretário-geral da Central
Indiana de Sindicatos (CITU), uma das confederações sindicais que participam da
greve.
Este artigo
apresenta material combinado de vários relatórios arquivados pelo People’s
Dispatch.
Tradução: José
Carlos Ruy
Fonte: People´s
World
(*) People’s
Dispatch, organização de mídia internacional que traz notícias de movimentos e
organizações populares em todo o mundo.
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