Por: Maiara Leal Gomes
O ano de
2020 tem sido de muitas incertezas e obstáculos para toda a sociedade, logo no
inicio surgiu uma pandemia que mudou a rotina e também as prioridades da maior
parte da população. Mediante tal fato, estamos fadados a aceitar que o
Coronavírus está aí e devemos tomar todas as precauções necessárias, mas será
que esse período deve ser visto apenas como uma pausa obrigatória de isolamento
social ou há por trás disso uma resignação do ser humano e da vida?
“Numa manhã, ao despertar de sonhos
inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto.
Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao
levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em
duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a
posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as
inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente
diante de seus olhos. Que me aconteceu? — pensou. Não era nenhum sonho”. Nesse
trecho de "A Metamorfose", Franz Kafka faz uma alegoria as diversas
transformações repentinas que a vida implica ao ser humano e de como na maioria
das vezes não estamos preparados para essas transformações e nos consideramos impotentes
perante elas. Um exemplo desse processo é a chegada de uma pandemia mundial,
que nos obrigou a passar a maior parte do tempo em casa sem contato social e
simultaneamente nos oportunizou um período de reflexão e reinvenção de valores,
esse período validou as teorias empíricas sobre a experiência como a de
Aristóteles, que afirmava que a observação da realidade por nossos sentidos
leva-nos a perceber idéias e sensações antes desconhecidas.
Muitos estacionaram a própria vida a partir do
momento que aderiram ao isolamento, essas mesmas pessoas encontraram se
melancólicas e temerosas a tal situação, afinal podemos perceber que de nada
adianta lutar tanto por um futuro próspero se num piscar de olhos a vida pode
parar e no final não teremos aproveitado o que vivemos. Mas há algo por trás de
todo esse temor que traz esperança de um futuro melhor, além das incertezas a
quarentena trouxe um momento de autoconhecimento, em que percebemos o quão
breve a vida é e nos reinventamos para viver a nova realidade, onde cabe a nós
escolhermos se viveremos no piloto automático, como antes da pandemia, ou
daremos continuidade a vida de forma plena, corrigindo o que nos afastava de
sermos pessoas melhores e realizar nossos sonhos esquecidos.
Infelizmente, foi preciso aprendermos na
prática o quanto a vida é efêmera, e passar por um momento de impotência e
choque semelhante ao do texto "metamorfose" mas felizmente estamos
aqui com a oportunidade de mudança. A experiência de conhecimento da brevidade
da vida foi necessária para que enfim pudéssemos conhecer verdadeiramente a
vida, no sentido mais real da palavra.
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