Por: Armando Silva.
Vou apenas presenta-se uma síntese das opiniões de diversos intelectuais
preocupados com os rumos da civilização contemporânea, de acordo com suas
visões de mundo e em função dos problemas ambientais e sociais percebidos. Para
alguns pode parecer catastrofismo, para outros, a realidade pode ser ainda
pior, mas é preferível o excesso de precaução, a sermos surpreendidos por não
termos previsto as possibilidades de catástrofes.
Há cerca de
meio século, a percepção de que havia algo errado no caminho trilhado pela
humanidade começou a tornar-se evidente.
Em seu livro
“Primavera silenciosa”, a bióloga, Rachel Carson (1969), na década de 1960,
denuncia com veemência o uso abusivo de substâncias químicas não naturais, ou
seja, manipuladas pelo homem, como os inseticidas e os herbicidas.
O DDT
(diclorodifeniltricloroetano) um dos primeiros e consequentemente, um dos mais
conhecidos, tendo sido usado já durante a Segunda Guerra Mundial para combater
vetores e parasitas patogênicos, cujas propriedades foram identificadas pelo
químico suíço Hermann Müller, agraciado com o Prêmio Nobel de medicina em 1948.
Não sendo de
ação específica, o DDT, entre outros, acabou atingindo uma ampla variedade de
espécies, muitas vezes atacando junto com a espécie que se deseja eliminar
também o seu predador, possibilitando, em muitas situações um retorno da praga
em maiores proporções, se sua reabilitação for mais rápida do que seu predador,
pois a reabilitação deste pode eventualmente, depender da reabilitação prévia
daquele. Ainda a ação não específica, atingindo uma gama de outras espécies,
afeta a cadeia trófica diretamente pela ação do veneno e indiretamente pela
eliminação de diversos elos presa/predador pela ausência de alimento de
diversas espécies.
Grande parte
destas substâncias podem ser classificadas como POPs (poluentes orgânicos
persistentes), ou seja, elas tendem a permanecer por longo tempo na natureza.
Muitos animais não são por eles atingidos, mas os assimilam e armazenam em seus
organismos, podendo atingir então seus predadores. A minhoca, por exemplo,
assimila o DDT, e acaba matando seus predadores, entre eles os pássaros, que
eventualmente não tinham sido atingidos diretamente pela substância, ampliando
seu efeito, fato que serviu de subsídio para o título de “Primavera silenciosa”
justamente em função da ausência dos pássaros canoros que costumam saudar a
primavera com grande alarido.
O ambiente
terrestre, que envolve o ar, o solo e a água, é contínuo. A aplicação destas
substâncias, normalmente pulverizadas no ar, se depositam sobre plantas, solo e
água. Pela chuva, são carreadas para o solo, vão contaminar tanto o solo, como
os rios, lagos, lençóis freáticos e chegam até o mar. Todas as microfaunas de
todos estes ambientes podem vir a ser contaminadas ao longo do tempo, e
consequentemente, pela cadeia trófica, podem chegar até o ser humano, pois
muitos deles se acumulam nos tecidos, principalmente, nas gorduras,
transferindo-se ao servirem de alimento, ao que se denomina de bioacumulação.
A justificativa
básica para o uso destas substâncias, nocivas a natureza sobre todos os
aspectos, é a necessidade de se produzir alimentos, face à propalada miséria e
fome de grande parte da população mundial. No entanto, na época, 1962, os
Estados Unidos, pagavam para fazendeiros não produzirem, aplicavam-se políticas
com objetivo de destinar áreas de fazendas para outras finalidades, e ainda
assim, gastava mais de um bilhão de dólares anuais, na execução de programas de
armazenamento de excedentes de produção de alimentos (CARSON, 1969, p. 19).
No final da
década, em 1968, é fundado o Clube de Roma, e por encomenda deste, em 1972 é
publicado o livro “Limites do Crescimento”, elaborado por uma equipe do MIT
(Massachusetts Institute of Technology) e os cientistas americanos Dennis
Meadows e Donnela Meadows, e o acadêmico norueguês Jorgen Randers, no qual foi
demonstrado matematicamente a incapacidade do planeta em suportar o crescimento
econômico e populacional, em função do aumento do consumo, em contraste com os
recursos limitados ou finitos, bem como, em relação a degradação originada pela
poluição decorrente de práticas inadequadas e do descarte de resíduos. (LIMA,
2012).
Estudos,
conferências e publicações continuam trazendo a evidência, os equívocos da
caminhada humana. Ainda em 1972, a ONU (Organização das Nações Unidas) realiza
na Suécia a 1ª Conferência Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e em 1983
cria a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, chefiada pela
norueguesa Grow Harlem Brundtland, que comanda a elaboração de um relatório
publicado em 1987, “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como Relatório
Brundtland. É deste relatório a expressão desenvolvimento sustentável como
sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”
(PENNA, 1999, p. 140).
Eco-92 ou
Rio-92, Rio+10 e Rio+20, foram as conferências subsequentes da ONU, realizadas
no Rio de Janeiro em 1992, Johanesburgo na África do Sul em 2002 e de novo no
Rio de Janeiro em 2012, todas plenas de problemas, mas pobres em soluções
eficazes. Como diz Bernardo Mariani, professor da PUC-Rio (apud LIMA,
2012), a propósito do livro “Limites do
Crescimento”:
Analisando,
hoje, 40 anos depois, o impacto é de se poder enxergar o quão antiga é a
preocupação com o meio ambiente, embora pouco tenha mudado. Os grandes líderes
ainda pensam em crescimento, produção, consumo, economia. Ao invés disso, é
necessário nos prepararmos para as mudanças climáticas, que já estão ocorrendo,
e mudar o paradigma financeiro-industrial.
Para
possibilitar uma melhor visão do assunto, passa-se a uma síntese destes
problemas ambientais, elencados por Jared Diamond (2006, p. 581-593) em seu
livro “Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”.
Os problemas
elencados foram consolidados em uma dúzia de grupos, sendo que oito deles já
eram significativos e foram suficientes para desencadearem o declínio e
desaparecimento de diversas civilizações. Os outros quatro são consequências do
desenvolvimento ou passaram a ser em função deste desenvolvimento.
Quatro
consistem em destruição ou perdas de recursos naturais. Três se referem a
limites de recursos naturais. Outros três são referentes as coisas perigosas
que produzimos ou transportamos, e os últimos dois estão relacionados com as
questões populacionais.
Como primeiro
grupo, a destruição de habitats naturais, substituindo-os por habitats
antrópicos, como cidades, vilas, estradas, plantações e pastagens, que são
danificados pelo uso inadequado ou pela alteração das condições ambientais. A
floresta é o recurso mais devastado ao longo dos tempos, tanto pela exploração
dos materiais que ela fornece (como a madeira), como também pela utilização do
espaço por ela ocupada para uso em outras finalidades. Além de fornecer
materiais, ela fornece também os denominados serviços ambientais: proteção das
bacias hidrográficas, reguladoras do ciclo hidrológico, participando inclusive
na formação das nuvens, proteção do solo contra erosão, abrigo e sustento de
grande parte da biodiversidade, imprescindível a manutenção da vida no planeta.
Mesmo a modificação de sua estrutura, sem destruição, transformação em
monoculturas, por exemplo, acarreta enormes prejuízos em suas funções, além de
aumentar seus riscos, como incêndios.
Outro recurso
com intensiva destruição é os pantanais. Sua utilidade como manutenção da
qualidade da água, habitat de diversas espécies, especialmente, juvenis, que
posteriormente migram para rios e mares, foram bastante relegadas, tanto por
desconhecimento como por equívoco de avaliação de custo benefício.
Os recifes de
corais, são equivalentes marinho das florestas pluviais, abrigo de considerável
biodiversidade, vem sendo destruídos por pesca com métodos inadequados,
proliferação de algas pela redução de seus predadores pescados em excesso,
deposição de sedimentos e poluentes oriundos das atividades humanas, bem como,
sua descoloração pelo aumento da temperatura das águas.
A parte rasa
dos oceanos e sua biodiversidade vêm sendo também extremamente prejudicadas
pela pesca de arrastão, além da deposição de sedimentos e poluentes.
No segundo
grupo se tem os recursos alimentares naturais ou selvagens. No passado, toda a
alimentação provinha da natureza, mas os espaços terrestres ainda selvagens são
insuficientes para possibilitar esta prática, exceção a algumas tribos
indígenas ainda existentes. No entanto, o mar ainda é um grande fornecedor de
proteína animal, praticamente de graça, excetuando-se os custos de captura,
constituindo-se na base alimentar de muitas populações ribeirinhas. No entanto,
a pesca comercial, com cada vez mais competidores, tende a exaurir este recurso
comum, repetindo-se a conhecida tragédia dos comuns, face à dificuldade de
controle, sendo que as espécies de mais alto valor estão em franco declínio ou
já entraram em colapso.
A aquicultura,
com um futuro aparentemente promissor, pois é uma das formas mais baratas de
produzir proteína animal, pode acabar prejudicando ainda mais a conservação do
recurso natural. A produção de um quilo de proteína consome vinte quilos,
normalmente de proteína selvagem. As espécies selecionadas e adaptadas aos
cativeiros são de rápido crescimento e de baixa sobrevivência, e podem causar
dano genético ao cruzar com espécies selvagens. Ao competir com a pesca
tradicional, força-se a redução de preços desta, obrigando assim o aumento de
captura em busca do ponto de equilíbrio financeiro nessa atividade, ampliando
desse modo, a sobrepesca predatória.
O terceiro
grupo refere-se a biodiversidade, onde animais e vegetais úteis ao homem, tanto
para a alimentação como para o fornecimento de matéria prima possuem um
determinado valor óbvio, sua proteção à extinção tem sido mais protegida. No
entanto, as espécies que não possuem um interesse imediato, muitas delas por
serem concorrentes no uso de algum recurso, tornam-se, portanto, prejudiciais
aos interesses imediatos da espécie humana, e por isso elas possuem a sua
proteção desleixada ou até combatida visando seu extermínio, pois são
consideradas como pragas. A extinção de qualquer espécie provocará
desequilíbrio no sistema com maior ou menor intensidade, pois toda espécie
preda outra ou outras e é também por outra ou por outras predadas, ocasionando
assim uma ruptura na cadeia trófica. Além disto, muitas espécies são
fornecedoras de serviços ambientais, como a polinização, a aeração do solo,
entre outras. Num experimento simulador de biosfera houve problemas que
prejudicaram seres humanos sendo que causa foi atribuída simplesmente, a
ausência de minhocas, pela interferência do equilíbrio da composição do ar.
O quarto e
último grupo referente a perda ou destruição de recursos naturais, diz respeito
ao solo. O solo é formado em tempos geológicos, pelo intemperismo das rochas em
interação com outros materiais, seres, energias e fenômenos do ambiente. É
desta interação que resulta a sua maior ou menor fertilidade. Seu uso
inadequado, sua exposição aos fenômenos ambientais, sol, chuva, vento, podem
destruí-lo ou remove-lo para outros locais tornando-os desse modo
inutilizáveis. Erosão fluvial, eólica, acidificação, alcalinização,
salinização, com eventuais desertificações são os processos que provocam as
maiores perdas de solo.
Os quatros
grupos desta série já eram significativos no passado, sendo considerados como
causa presente em maior ou menor grau no colapso das civilizações precedentes.
Dos três seguintes, que envolvem limites, dois são fatores que só recentemente
ganharam importância, energia e capacidade fotossintética, e o outro, a água,
também já foi causa presente no insucesso de civilizações passadas.
As maiores
fontes de energia, quinto grupo, ainda são os combustíveis fósseis. Mesmo que,
novas jazidas, tanto de petróleo, quanto de gás e carvão, continuem sendo
descobertas a cada dia, e, portanto, se torna impreciso a quantidade real
disponível, é evidente a sua limitação, principalmente se for considerada a
acessibilidade de jazidas, que está se tornando cada dia mais difícil, apesar
de todo progresso da tecnologia, envolvendo também maiores danos ambientais
aumentando a razão custo x benefício. É a razão custo x benefício, o grande fator
que dificulta a obtenção de energias alternativas: hídricas, solares, eólicas,
biológicas, entre outras.
O sexto grupo,
refere-se a água, sendo esse um fator limitante do passado e presente.
Praticamente toda a água doce já está sendo utilizada, ou se ainda não está é
porque ela localiza-se em locais inacessíveis ou distantes das fontes de
consumo. Além dos rios e dos lagos, também os aquíferos já estão sendo
utilizados em largas proporções, normalmente acima de suas capacidades de
recarga, de modo que vão terminar se esgotando, mais dia menos dia. Sem contar
com as contaminações que já estão ocorrendo por falta de cuidados nas áreas de
recarga. A dessalinização é possível, mas extremamente dispendiosa para grandes
quantidades, além do consumo de energia requerido, tanto no processo como no
bombeamento necessário para disponibilizá-la nas áreas de uso.
O sétimo grupo
corresponde à capacidade fotossintética. Aparentemente, a disponibilidade de
luz solar é infinita e a possibilidade de fotossíntese também. No entanto, esta
capacidade de fotossíntese é condicionada por outros fatores além da luz solar,
como por exemplo, a localização, a chuva, a temperatura, a geometria e a
bioquímica da planta. Segundo alguns cálculos realizados em 1986, os mesmos
apontavam que o homem já está utilizando metade desta capacidade total. Há
previsões de que em meados deste século pode-se estar prestes a atingir o seu
limite de utilização.
O oitavo grupo,
primeiro da série de produtos perigosos que são produzidos e transportados
referem-se aos produtos tóxicos. Além dos agrotóxicos, já analisados
anteriormente, a propósito do livro “Primavera silenciosa”, diversos outros
produtos químicos são descartados como resíduos industriais ou domésticos,
inclusive metais pesados. Outra grande variedade de produtos químicos está
presente na alimentação, especialmente, os conservantes e os aditivos de toda
ordem. Esses em pequenas quantidades, medidas isoladamente, mas que pelo
acúmulo e ou pelas interações possíveis, podem produzir efeitos a longo prazo
que sequer são imagináveis, em função do que não foram consequentemente
devidamente mensurados e avaliados.
Também produtos
naturais, normalmente sintetizados nos processos vitais, hormônios, por
exemplo, são produzidos e utilizados para acelerar processos de crescimento, em
benefício da produção de alimentos, mas cujos efeitos colaterais de longo prazo
não foram ainda devidamente avaliados.
O nono grupo,
segundo desta série, diz respeito a algo que é transportado e/ou realocado,
inclusive inadvertidamente. São as espécies exóticas, tanto de animais quanto
de vegetais, que ao serem introduzidas em habitats diferentes, podem se tornar
extremamente prejudiciais, pois por não existir o seu predador natural nesse
novo habitat, acabam proliferando excessivamente ampliando sua capacidade de
predação e de competição, prejudicando ou destruindo o meio natural em que
foram inseridas.
O décimo grupo,
último desta série, é algo novamente que se produz. São os gases, maioria deles
abundantes na natureza, mas que a atividade humana tem ampliado
consideravelmente. Apesar da polêmica sobre a magnitude da influência destes
gases de produção antrópica, tanto na questão do aquecimento global, quanto da
destruição da camada de ozônio, que filtra os raios ultravioletas, é
praticamente inquestionável sua participação.
O smog e a
chuva ácida são também causados por poluição atmosférica de origem antrópica.
Ambos são de causa e de efeito local, mas a chuva, que está eventualmente
distante tanto no tempo como no espaço, depende das demais condições
atmosférica de temperatura, de pressão e da direção dos ventos, principalmente.
A última série
de dois grupos se refere a população. Sendo que a primeira da série e décimo
primeiro grupo é o aumento populacional. Quanto mais pessoas, maior será a
necessidade de recursos ambientais, porém esses estão cada vez mais escassos
como já vimos. Atualmente, a taxa de natalidade tende a estabilizar-se próxima
da média 2 ou 2,1 filhos por mulher e que seria uma taxa apenas de reposição, deixando
de haver crescimento populacional. No entanto, face ao grande aumento
populacional em passado recente, o número de jovens em plena idade reprodutiva
é muito grande, e mesmo esta taxa de 2 filhos por mulher resulta em um número
bem maior de nascimentos comparado com o de mortes, que tem sido menores também
pelo aumento de expectativa de vida, resultando num significativo crescimento
populacional, cuja previsão de estabilizar-se é bastante incerta, tanto quanto
a data como quanto ao total desta população.
E como último
grupo e último item da série, se tem a questão do consumo e do descarte per
capita, e consequentemente, consumo e descarte global. O que impacta sobre o
planeta não é o número de pessoas sobre ele, mas sim, o desgaste que a ele se
impõe pela retirada de materiais para suprir as necessidades dos indivíduos e
pelo descarte de rejeitos que a natureza precisa reprocessar e que vem cada vez
mais excedendo esta capacidade.
Dados de 2005,
conforme o Diamond (2006) já citado, apontam para um consumo médio de 32 vezes
maior nos países desenvolvidos em comparação aos países menos desenvolvidos.
Levando-se em consideração os que já estão na média, e os indivíduos dos países
menos desenvolvidos, mas que possuem poder aquisitivo comparável aos países
mais desenvolvidos, se todos ascendessem ao nível de consumo dos mais
desenvolvidos, as necessidades seriam 12 vezes maiores.
Estes doze
problemas individualmente descritos, na verdade estão todos interligados.
Qualquer um deles que não puder ser equacionado poderá por a perder todo o
trabalho eventualmente realizados nos demais. Como diz o Diamond já citado
(2006, p. 595):
A comunidade
mundial está atualmente em um curso de não-sustentabilidade, e qualquer um de
nossos 12 problemas de não-sustentabilidade que acabamos de resumir seria
suficiente para limitar nosso estilo de vida nas próximas décadas. São como
bombas de tempo com detonador menos de 50 anos.
Outro aspecto
destacado por este mesmo autor na mesma página:
As pessoas
frequentemente perguntam: “Qual é o problema ambiental/populacional mais
importante que o mundo enfrenta hoje em dia?” Uma resposta insolente seria: “O
problema mais importante é nossa visão equivocada ao tentar identificar um
único problema importante!” Essa resposta insolente é essencialmente correta,
[...].
E trazendo mais
uma faceta da mesma problemática, vejamos o que diz ainda o autor (2006, p.
596):
Portanto por
estarmos rapidamente avançando neste curso de não-sustentabilidade, os
problemas ambientais do mundo serão resolvidos de um modo ou de outro, no tempo
de vida das crianças e jovens adultos de agora. A única pergunta é se serão
resolvidos de modos agradáveis de nossa escolha, ou de modos desagradáveis que
não sejam de nossa escolha, como guerras, genocídio, fome, doenças epidêmicas e
colapso de sociedades. Embora todos esses fenômenos sombrios tenham sido
endêmicos para a humanidade através de nossa história, sua frequência aumenta
com a degradação ambiental, pressão populacional e da pobreza e instabilidade
política resultantes.
Dois aspectos
importantes surgem a partir destas duas últimas colocações. “O problema mais
importante é nossa visão equivocada” nos indica que é a visão de mundo desta
civilização, originada da ciência e do conhecimento, produzido ao longo dos últimos
tempos, não só o entrave para a percepção das soluções que se fazem
necessárias, mas também causa destes problemas.
“Guerras, genocídio, fome, doenças epidêmicas
e colapso de sociedades” entreveem a interação entre problemas ambientais e
problemas sociais que já se fazem presentes, evidentemente originados e sendo
agravados pela mesma equivocada visão de mundo.
E o problema
ambiental se amplia, ultrapassando inclusive a perspectiva de crise ambiental e
desembocando em uma crise da sociedade e das suas instituições.
Falando sobre
medidas possíveis para reduzir a extinção de espécies, Yuji Ishiguro (2005, p.
190), escreve:
Para reverter a
situação, é necessária uma mudança fundamental no modo em que sociedades
funcionam e como os indivíduos vivem. Esta mudança precisa envolver o sistema
econômico, sistema de valor de indivíduos e de sociedade, convicções
religiosas, os chamados direitos humanos e as rotinas diárias de indivíduos e,
no mundo real, não acontecerá em futuro previsível.
“Não acontecerá
em futuro previsível”, pode ensejar interpretação de pessimismo exagerado, mas
se conjugarmos com o enfoque do autor anterior de que o problema maior é “nossa
visão equivocada”, e que a mudança desta visão envolve, voltando à colocação de
Ishiguro, “sistema econômico, sistema de valor de indivíduos e de sociedade,
convicções religiosas, os chamados direitos humanos e as rotinas diárias de
indivíduos”, a assertiva se tornará extremamente realista.
Também a
assertiva de Henrique Leff (2000) corrobora esta perspectiva:
A questão
ambiental, com a sua complexidade, e a interdisciplinaridade emergem no último
terço do século XX (finais dos anos 60 e começo da década de 70) como
problemáticas contemporâneas, compartilhando o sintoma de uma crise de
civilização, de uma crise que se manifesta pelo fracionamento do conhecimento e
pela degradação do ambiente, marcados pelo logocentrismo da ciência moderna e
pelo transbordamento da economização do mundo guiado pela racionalidade
tecnológica e pelo livre mercado.
Maria José
Esteves de Vasconcellos (2009, p.18) na introdução da sua obra, “Pensamento
sistêmico: o novo paradigma da ciência” alerta para a possibilidade de colapso
da nossa civilização pelas duas perspectivas, ambiental e social, quando diz:
Tem-se falado
muito sobre as crises vividas hoje pela sociedade contemporânea, muitas vezes
associando-as ao fato de a sociedade ter adotado a ciência como base de sua
organização.
Por um lado, a
tradução tecnológica dos conhecimentos científicos ampliou enormemente a
eficácia do homem para viver nos mais variados ambientes. Mas com isso, não só
modificou as relações do homem com a natureza, colocando-o cada vez mais
dependente do uso da ciência e da técnica, como também tornou eminente o risco
de uma catástrofe ecológica. Tendo dominado o ambiente ecológico, parece que o
homem deslocou as questões de sua sobrevivência para o plano das relações com
seus semelhantes. E aí também parece que as contribuições da ciência não têm
sido suficientes ou adequadas para afastar de nossa civilização o risco real de
sua própria extinção.
Buscar soluções
eficazes e duradouras passa obrigatoriamente por buscar-se conhecer a sociedade
ou civilização contemporânea e seus componentes, dos quais o componente básico
é o indivíduo, pois é ele em suas relações que forma as sociedades, que por sua
vez os formam, como explicita Edgar Morin (2011a, p. 87):
A sociedade,
[...], é produzida pelas interações dos indivíduos que a constituem. A própria
sociedade, como um todo organizado e organizador, retroage para produzir os
indivíduos pela educação, a linguagem, a escola. Assim os indivíduos, em suas
interações, produzem a sociedade, que produz os indivíduos que a produzem. Isso
se faz num circuito espiral através da evolução histórica.
Estas
interações entre indivíduos, influenciadas pelos ambientes naturais e
construídos, num circuito espiral produz sociedades diversificadas, estampadas
e perceptíveis na diversidade de culturas.
Historicamente
se sabe que diversas sociedades surgiram, cresceram, floresceram, decaíram e se
extinguiram. Ao desaparecimento de umas seguia-se o surgimento de outras, e a
espécie humana continuava se desenvolvendo.
No estágio
atual de desenvolvimento social, se globalizando, duas grandes civilizações
disputam a hegemonia. Esta disputa se estende pelos últimos 16 mil anos, com
alguns períodos de prevalência do oriente, mas na maior parte do tempo a
prevalência é do ocidente, mais presentemente da civilização ocidental. Ian
Morris (2013) em seu livro “O domínio do Ocidente”, cujo título original é “Why
the West rules – for now” e que é titulo da parte III, “por que se encontra o
poder no Ocidente por agora” sugere a possibilidade da hegemonia voltar a ser
do Oriente. No entanto, o maior desenvolvimento do Oriente no presente, está
fortemente fundamentado na assimilação de fatores próprios da civilização
ocidental, desta forma, os efeitos colaterais perniciosos do desenvolvimento se
farão presentes em ambas as civilizações, independentemente de qual delas seja
a hegemônica.
Isto tornará semelhante
as civilizações hegemônicas, tornando-as globalizadas e seus efeitos
perniciosos incidentes sobre os já elencados fatores ambientais vitais, a
exemplo do notório problema do aquecimento global, tenderão a levar ao colapso
global, criando a possibilidade do desaparecimento da espécie humana, entre
outras tantas.
Pelo até agora
exposto, é possível inferir a dimensão global da problemática e
consequentemente da crise, significando momento histórico indefinido, com
riscos inquietantes, capaz de desfecho indesejável. Além de global, é
perceptível sua derivação dos mais diferentes e intricados processos inerentes
a vida da espécie humana inserida na biosfera, no planeta e no cosmos.
Neste contexto,
aplicando o que Blaise Pascal (1973, p. 59) já escreveu no século XVII, tendo
sido contemporâneo de Rene Descartes:
E como todas as
coisas são causadoras e causadas, auxiliadoras e auxiliadas, mediatas e
imediatas, e todas se acham presas por um vínculo natural e insensível que une
as mais afastadas e diferentes, estimo impossível conhecer as partes sem
conhecer o todo, bem como conhecer o todo sem entender particularmente as
partes.
Mantendo um
olhar no todo, busca-se então, elencar uma diversidade de opiniões de
cientistas e pensadores sob os mais diferentes enfoques desta crise.
O conhecimento
humano derivado da experiência prática ou produzido pela abstração, cresce ao
longo dos tempos, especialmente após a invenção da escrita para registrá-lo,
minimizando as perdas existentes na transmissão oral de geração em geração,
evitando o retrabalho de refazer experiências já feitas ou estudar matérias já
desvendadas.
Também
Descartes (2007, p. 31) propõe “dividir cada uma das dificuldades que devesse
examinar em tantas partes quanto possível e necessário para resolvê-las”, ou
seja, se prioriza o estudo das partes.
Já Guilherme de
Ockam no século XIV, havia construído o princípio da economia na produção do
conhecimento, também conhecido como “navalha de occam”, colocando que “as
entidades não devem ser multiplicadas além do necessário, a natureza é por si
só econômica e não se multiplica em vão”. (GUILHERME DE OCKAM, 2017).
Em função da
dificuldade do ser humano de conseguir assimilar todo o conhecimento que vai
sendo produzido, aliado a máxima reducionista, facilitadora do entendimento
pela simplificação do todo em suas partes constituintes e pela eliminação de
correlações de menor importância, o conhecimento vem ao longo dos séculos
recentes se especializando e se fragmentando. Edgar Morin, (2005a, p. 18), corrobora
ao dizer que “a própria organização do conhecimento, no interior da nossa
cultura, racha esse fenômeno multidimensional; os saberes que, ligados,
permitiriam o conhecimento do conhecimento são separados e esfacelados.”
Esta
fragmentação do conhecimento que se está gerando, acaba se tornando numa imensa
“Torre de Babel” e resultando numa crise dos fundamentos do conhecimento com
consequências quase que imprevisíveis. (MORIN, 2011a, p. 20) torna isto
evidente:
[...] o
crescimento exponencial dos saberes separados, levam cada um, especialista ou
não, a ignorar cada vez mais o saber existente. O mais grave é que tal situação
parece evidente e natural. Como vivemos, sem dúvida, a época mais elevada do
progresso do conhecimento, da fecundidade das descobertas, da elucidação de
problemas, percebemos dificilmente que os nossos ganhos inusitados de
conhecimento são pagos com ganhos inusitados de ignorância. Como a universidade
e a pesquisa, refúgios naturais do pensamento, toleram desvios e
não-conformismos e permitem tomar consciência das próprias carências
universitárias e científicas, esquece-se que produzem a mutilação do saber, um
novo obscurantismo.
O novo
obscurantismo, diferente do estagnado nos recantos ignaros da sociedade, provém
doravante dos píncaros da cultura. Cresce no coração do saber, permanecendo
invisível para a maioria dos produtores desse saber, que sempre crêem produzir
unicamente para as Luzes.
Pior ainda: não
são apenas os benefícios, mas também os males especificamente modernos
(superpopulação, poluição, degradação ecológica, crescimento das desigualdades
no mundo, ameaça termonuclear) que, como diz Wojciechowski (1978), são
inseparáveis do progresso do conhecimento científico. Inconscientes do que é e
faz a ciência na sociedade, os cientistas são incapazes de controlar os poderes
escravizadores ou destrutores gerados pelo saber.
Assim, o mesmo
processo determina as maiores conquistas do conhecimento e produz novas
ignorâncias, um novo obscurantismo, uma nova patologia do saber, um poder não
controlado. Esse fenômeno de dupla face acarreta um problema de civilização
crucial e vital. Começamos a compreender que, mesmo sendo totalmente dependente
das interações entre os espíritos humanos, o conhecimento escapa-lhes e
constitui uma potência que se toma estranha e ameaçadora. Hoje, o edifício do
saber contemporâneo ergue-se como uma Torre de Babel que nos domina mais do que
a dominamos.
Apesar de a
ciência não ser a única produtora de conhecimento, ela já pretendeu a sua
hegemonia, é a principal responsável pela fragmentação do conhecimento.
Disjunta da filosofia, segmentou-se em ciências físicas, biológicas e humanas,
além do que, dentro destes segmentos dividiu-se em inúmeras disciplinas que
continuam a subdividir-se, dando origem a especialistas de toda ordem,
seguidores de teorias ou doutrinas as mais diversas, que quando não se
antagonizam se desconhecem.
Mas os danos
causados a civilização pela ciência não se restringe aos derivados de sua
fragmentação. Usando novamente as palavras de Morin (2011a, p. 18), “em toda a
história humana, a atividade cognitiva interagiu de modo ao mesmo tempo
complementar e antagônico com a ética, o mito, a religião, a política; o poder,
com frequência, controlou o saber para controlar o poder do saber”, queremos ressaltar
a questão do poder. Como entidade interna a sociedade, a ciência sempre teve de
conviver com os “poderes” reinantes nas sociedades, quer políticos, religiosos
ou econômicos, no entanto, a subserviência atual da ciência ao poder econômico,
mercado, ou político, governos, é comprometedora. Nas palavras de Ramonet,
(2001, p. 82), fica clara a relação com o mercado:
[...] numerosos
cidadãos estimam que a aliança entre capital, indústria e ciência constitui uma
traição à ética desta última e que tal concepção mercantil do progresso é, em
grande parte, responsável por alguns dos mais graves males planetários.
Compromissos apáticos e recomendações átonas terão como único efeito retardar
os inelutáveis prazos e a hora das decisões difíceis no momento em que o
planeta deriva para uma catástrofe ecológica global.
Boaventura
Souza Santos (2002, p. 34-35) em seu célebre discurso sobre as ciências, já
expressava esta mesma opinião, quando disse:
As ideias da
autonomia da ciência e do desinteresse do conhecimento científico, que durante
muito tempo constituíram a ideologia espontânea dos cientistas, colapsaram
perante o fenómeno global da industrialização da ciência a partir, sobretudo,
das décadas de trinta e quarenta. Tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades
socialistas de Estado do leste europeu, a industrialização da ciência acarretou
o compromisso desta com os centros de poder económico, social e político, os
quais passaram a ter um papel decisivo na definição das prioridades
científicas. A industrialização da ciência manifestou-se tanto ao nível das
aplicações da ciência como, ao nível da organização da investigação científica.
Quanto às aplicações, as bombas de Hiroshima e Nagasaki foram um sinal trágico,
a princípio visto como acidental e fortuito, mas hoje, perante a catástrofe
ecológica e o perigo do holocausto nuclear, cada vez mais visto como
manifestação de um modo de produção da ciência inclinado a transformar
acidentes em ocorrências sistemáticas.
Marilena Chauí
(2001, p. 285-286) alerta para “o problema do uso das ciências” não só com
relação ao poder econômico, mas também com o poder do governo, governo este que
está também mais alinhado ao poder econômico do que a própria sociedade. A
destinação de recursos, tanto por parte dos governos quanto de grandes
empresas, direciona as pesquisas científicas para o atingimento de seus
interesses, mais ligados ao poder e ao lucro do que aos reais interesses da
sociedade. Ressalva ainda a autora, que a sociedade, apesar de haver algumas
manifestações, especialmente de movimentos ecológicos, está impotente no
combate a esta aliança espúria da ciência e poder econômico.
A partir das
palavras de Ramonet (2001) acima, examine-se também a questão da ética, cuja
ausência se faz sentir não só na ciência, mas praticamente em todas as
atividades sociais.
A diferenciação
entre ética e moral é sutil, tanto que há autores que não se preocupam em
diferenciá-los, inclusive Edgar Morin (2011b, p. 15), pois na prática acabam
tendo o mesmo significado. Mas, veja-se o que diz Vázquez (1998, p. 47): “a
moral é um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente que regulam o
comportamento individual e social dos homens.” Para ética do mesmo autor,
(1998, p.12): “A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens
em sociedade”
Ainda segundo
Borges (2017, p. 1):
A Ética teria
surgido com Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e
explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição,
educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência.
Mais dois
atributos, segundo Vázquez (1998, p. 148): “Toda norma funda um dever” e (p.
78): “As normas morais se cumprem através de convicção íntima dos indivíduos,
[...]”.
Buscando
sintetizar o acima exposto, poder-se-ia dizer que a ética conduz, desde o
íntimo, a cumprir-se com o dever, já também internalizado, concebido a partir
das práticas sociais, costumes, mores ou normas. Isto permite também afirmar
que “quanto mais éticos forem as sociedades e os cidadãos, menor a necessidade
de leis” (MOTTA, 2009). Invertendo esta
assertiva poder-se-ia dizer que quanto maior a necessidade de leis, uma
realidade presente de forma contundente, menos ética é esta sociedade, como diz
Meyer (2014): “Quanto mais leis e mais polícia existirem, menos ético é o povo.
A grandeza de um povo não é medida pela maneira como são cumpridas as leis, e
sim como são cumpridos os princípios que não estão escritos na lei: os valores,
a ética.” E a proliferação de códigos de éticas nos dias presentes também corrobora
a decadência ou quase inexistência de ética em nas sociedades contemporâneas,
pois:
[...] os
códigos de ética, na verdade, são leis disfarçadas, leis light, promulgadas por
quem não tem poder para legislar (por exemplo, uma empresa, uma associação
profissional) – e não são textos que decidam, de maneira cabal, sobre o caráter
ético ou não das pessoas. [...].(idem)
Mas devemos
sempre deixar claro que nenhum código de ética vai fazer uma pessoa ética. Para
alguém ser ético, é preciso mais do que a obediência a uma lei, e isso por
melhor que seja a lei. Ou, para terminar: numa época cheia de agências
certificadoras (tipo os vários ISO, 9000, 14000 e outros), não há agência
certificadora para nosso caráter ético. Ele depende só de nós, de nossa consciência,
[...] (RIBEIRO, 2017). A decadência da ética se aproximando do que se poderia
chamar de ausência de ética comprometendo os relacionamentos em todas a esferas
da vida, tanto em sociedade como com o meio ambiente, está levando à barbárie,
como expressa Morin (2011b, p. 86): “O mal ético está na barbárie das relações
humanas, no próprio coração da civilização. Enquanto permanecermos como somos,
continuaremos bárbaros e mergulhados na barbárie.”
Um componente
da sociedade comprometido pela ausência de ética e talvez um dos alimentadores
deste declínio da ética é o mercado. Expressão maior do capitalismo é no e pelo
mercado que aquele se realiza. Uma necessidade humana para minimizar as
dificuldades e facilitar o desfrute das benesses da civilização, tornou-se um
fim em si mesmo para alimentar a ganância daqueles que nele operam.
Na e a partir
da idade média, cidades formadas por comerciantes que operavam junto aos
feudos, chamadas “burgos”, com vida independente daqueles, florescem e se
desenvolvem, dando origem a burguesia, tendo desempenhado importante papel na
substituição do regime político-institucional/social do feudalismo e da
aristocracia dele decorrente, por regimes mais inclusivos. Mas a não submissão
dos burgos aos feudos se mantém mesmo ao se mudarem os regimes, e até hoje a
“liberdade de mercado” se faz presente. Há objeções quanto a isto, como coloca
Santayana (2011):
A sociedade
organizada em estados políticos não só pode, como deve, opor limites à ganância
do mercado. Entre outras razões para que os homens criassem o Estado,
destacou-se a necessidade de que se impusesse a justiça. Não havendo a
consciência de solidariedade, por parte de alguns, as primeiras comunidades
criaram sistemas de coerção, que se desenvolveram até chegarem às complexas formas
constitucionais modernas.
No mesmo
sentido: “Elevar os objetivos do comércio acima da transparência e da
responsabilidade que a democracia exige, acabará por destruir pelo menos uma
destas instituições, quando não as duas.” (HAWKEN; LOVINS; LOVINS, 2004, p.
265).
Outro aspecto é
destacado por Carlos Gabaglia Penna (1999, p. 213) quando diz que “a competição
desperta o que há de melhor nas empresas e o de pior nas pessoas”.
É
reconhecidamente verdade que a competição que desperta a ambição é a mola propulsora
do progresso, do desenvolvimento, especialmente do desenvolvimento econômico,
através do mercado. Já o acirramento da competição, acaba ultrapassando a
simples ambição e desencadeando a ganância, cujos efeitos positivos já se
tornam duvidosos, mesmo em se tratando de empresas, pois muitos problemas tem
se originado deste comportamento. A degradação ambiental, tanto pelo uso
indiscriminado dos recursos como pelo lançamento indevido de rejeitos e
resíduos em função do lucro é exemplo contundente da ganância.
O crescimento
econômico pelo crescimento do mercado depende do aumento da produção de
produtos, mas ele só se completa pelo crescimento do consumo. Para promover o
aumento do consumo necessário a manutenção do mercado em constante crescimento,
a propaganda, publicidade, markting e outros instrumentos são massivamente
usados a ponto de que “as pessoas gastam um dinheiro que não possuem, para
comprar coisas que não necessitam, para impressionar pessoas que não conhecem”
(PENNA, 1999, p. 52).
Konrad Lorentz
(1986, p.141), etólogo austríaco, Premio Nobel de Fisiologia ou Medicina de
1973, por seus estudos sobre o comportamento animal, inclusive dos humanos
escreve:
Os
publicitários descobriram, com os métodos comprovadamente válidos para as
ciências naturais, que não tem muito sentido tentarem atingir o público-alvo de
uma campanha com motivos racionais. É muito mais recomendável atingir as
camadas mais profundas da alma humana, regidas pelos sentimentos, ou até mesmo
o seu subconsciente. Não tem efeito algum uma tentativa de ensinar; o
publicitário e o propagandista bem-sucedidos são os que sabem como manipular os
instintos e as emoções humanas. Quem deseja conquistar grandes massas humanas
utiliza a chave para o seu “coração”, vale dizer para o subconsciente, É aí que
se encontram as normas comportamentais programadas geneticamente, como o medo,
a sexualidade, a necessidade de ordenamento, etc., e estas são manipuladas
impiedosamente através de todo tipo de armadilhas. Praticamente todas as
emoções e sentimentos instintivos podem ser atingidos por meios e métodos
propagandísticos e publicitários; para que esses procedimentos tenham efeito, é
essencial, como aponta corretamente Aldous Huxley, que a pessoa não tome
consciência de que o que tem diante de si é nada mais do que um símbolo de seu
desejo, e não da satisfação desse desejo. O anúncio de um maiô ou de um creme
de beleza parece prometer que a feliz adquirente terá a mesma aparência que tem
o modelo fotográfico mostrado no anúncio. Os fabricantes de cosméticos vendem,
conforme teria dito um deles a Aldous Huxley, “não a Lanolina mas sim a
esperança”. A lanolina é barata; já pela esperança os fabricantes cobram
muitíssimo mais caro. [...]. O efeito perigoso desse tipo de propaganda é que,
pouco a pouco, as pessoas se acostumam a desdenhar o raciocínio e a verdade.
É a ciência,
como vimos anteriormente, colaborando com o mercado, principalmente o
publicitário, para enganosamente induzir a sociedade ao consumo em proveito do
mercado e do capitalismo, e as consequências vão muito além das ambientais,
desnorteando as pessoas inclusive sobre o que é certo ou errado e até sobre o
adequado uso daquela capacidade específica dos seres humanos, a razão, o
raciocínio.
Zygmunt Bauman,
(2008) em seu livro “Vida para consumo” dedica um capítulo ao estudo das
“baixas colaterais do consumismo” em que coloca que o principal “dano
colateral” que pode ser resumido na sucinta frase: a “materialização do amor” e
cita Arlie Russel Hochschild (apud BAUMAN, 2008, p. 153):
O consumismo atua
para manter a reversão emocional do trabalho e da família. Expostos a um
bombardeio contínuo de anúncios graças a uma média diária de três horas de
televisão (metade de todo o seu tempo de lazer), os trabalhadores são
persuadidos a “precisar” de mais coisas. Para comprar aquilo de que agora
necessitam, precisam de dinheiro. Para ganhar dinheiro, aumentam sua jornada de
trabalho. Estando fora de casa por tantas horas, compensam sua ausência do lar
com presentes que custam dinheiro. Materializam o amor. E assim continua o
ciclo.
Bauman (2008,
p. 153) complementa dizendo;
Podemos
acrescentar que a nova separação espiritual e a recente ausência física do
cenário do lar tornam os trabalhadores, homens e mulheres, impacientes com os
conflitos, sejam eles grandes, pequenos ou simplesmente, minúsculos e
insignificantes, que se misturar sob um mesmo teto inevitavelmente provoca.
É a família
então, outro fator em crise ou pelo menos a compor a crise civilizacional e em
função não só do consumismo, mas de diversos outros fatores que está a
degradar-se, já deixando de existir, pelo menos em sua forma extensa, em maior
ou menor escala, principalmente na sociedade ocidental, como confirma Morin
(2013, p. 357):
No ocidente,
essa família ampliada desintegrou-se e, exceto entre alguns imigrantes do Sul,
as famílias numerosas desapareceram. A família constituía uma microssociedade
cujas funções eram econômicas, protetoras, solidárias, educativas e, até mesmo,
religiosas. A creche, a escola, o hospital, o asilo, a aposentadoria suprimiram
da família um grande número de suas missões tradicionais. [...]. Ainda resta a
família nuclear, constituída pelo casal e por sua prole reduzida. Mas o casal
também está em crise: o trabalho das mulheres, os encontros externos de cada um
dos esposos, o superdesenvolvimento de um individualismo forçado, a liberdade
sexual, as incompreensões e disputas, tudo isso mina e acaba por destruir o
casal.
Raymundo de
Lima (apud MARTINS FILHO, 2011, p. 95): “A sociedade capitalista corroeu, por
um lado, a autoridade do pai e, por outro lado, sequestrou a mãe para o
trabalho, impedindo-a de dar o necessário colo ao filho”. O próprio Martins
Filho (2011, p. 95-96):
Nesta
sociedade, já não se pode falar em patriarcado ou matriarcado. O que temos
realmente, salvo exceções interessantes, é a ausência de definição de papéis,
de quem assume o que em relação à família ou aos filhos. O pai fica
envergonhado de colocar limites (tem medo de ser tachado de machista) e também
se exime de cobrar da esposa, ou da mãe de seus filhos, uma atitude mais
complacente e mais participativa na educação do dia a dia. A mãe, por sua vez,
assusta-se e envergonha-se de dizer às amigas que, no fundo, o que gostaria
mesmo é de poder dar um pouco mais de atenção à sua prole, ao marido, à sua
própria vida.
De acordo com
Lakatos e Marconi (1999, p. 321), a desintegração social e degradação das
famílias têm causado e derivado em diversas mazelas sociais, tais como:
delinquência juvenil, violência familiar, agenciamento sexual, pedofilia, gravidez
precoce, entre outras.
Neste mesmo
sentido, Morin acima citado (1999, p. 358) coloca:
Jacques Lévine
enunciou as patologias da família contemporânea: pais abusivos ou fracos
demais, eles mesmos oriundos de lares de pais abusivos e fracos, e quando se acrescentam
a tudo isso a miséria, o alcoolismo, a crise da escola atual, criam-se crianças
“desestabilizadas” e adolescentes perdidos que cedem à ira ou à
auto-destruição.
A crise da
escola atual, destacada por Morin, insere-se, deriva e realimenta não só a
crise da família mas todas as demais entidades constituintes da sociedade. A
fragmentação do conhecimento produzido pela ciência já abordado, é disseminado
não só mas principalmente pela escola indo integrar-se a ação dos indivíduos na
sociedade, tornando-se componente básico de todas as crises parciais e
componente básico da crise global.
Independentemente
da polêmica da “tábula rasa”, é certo que, como diz Mário Sérgio Cortella
(2006): “não nascemos prontos”. Fisicamente somos o animal mais imperfeito ao
nascer, totalmente dependentes tanto para locomoção como para alimentação, o
que normalmente é providenciado pela família, especialmente pela mãe, pela
amamentação, além de que somos o animal com o mais complexo aparato mental a
ser desenvolvido, e é a educação que começa na família, o fator básico a
alavancar este desenvolvimento.
Além disto,
sendo um ser social, vivendo em grupos, necessitamos “que as novas gerações se
integrem nestes grupos e para isto é necessário que tomem ciência do acervo de
conhecimentos, normas, valores, ideias, ideologias, procedimentos, folkways e
mores, tradições, enfim, sua herança cultural”, (LAKATOS; MARCONI, 1999, p.
221).
Este processo é
responsável também pela formação da personalidade e do caráter de cada
indivíduo, calcado em hábitos e valores, inculcados desde a mais tenra
infância, pautados em preceitos e moldados pelo exemplo. A deficiência deste
processo vai contribuir na crise da ética anteriormente explanada.
Com a
desintegração da família, não só a atividade educativa complementar, mas até a
responsabilidade pela educação como um todo, foi transferida para a escola,
sobrecarregando-a e atribuindo-lhe responsabilidades incompatíveis com a sua
função original.
Também ao se
analisar a crise da ciência, sua subordinação ao mercado foi ressaltada, o que
da mesma forma se aplica aqui, bem como a sua mercantilização, ou seja, a
educação foi apropriada pelo mercado se tornando em reles mercadoria. Neste
contexto, aliado a sua fragmentação, a escola e a educação como um todo está a
serviço do mercado, mais preocupada em formar especialistas para o trabalho e
consumidores generalistas do que cidadãos comprometidos com a sociedade, a
civilização e o planeta.
Ao se analisar
o consumismo, pautado na observação de Bauman (2008), foi possível perceber a
influência da televisão como intermediária das pretensões do mercado em ampliar
o consumo, necessário a subsistência e crescimento deste mercado. Na realidade
não é só a televisão, mas a mídia de forma geral, parte integrante do mercado,
subordinada a mesma lógica desenvolvimentista, que explorando uma gama de
tecnologias e conhecimentos científicos modernos e crescentes, se presta a
contribuir com o mercado e consigo mesma.
Utilizando-se
de conhecimentos e técnicas da área da psicologia, consegue atingir
subliminarmente até as pessoas bem formadas e esclarecidas, incutindo em seu
subconsciente desejos e aspirações que levam ao consumo de bens supérfluos,
inclusive com endividamento, e que conscientemente e racionalmente não seriam opção.
Crianças e pessoas menos esclarecidas ou com personalidade não bem formada são
ainda muito mais influenciadas e assumindo como desejo ou até direito, quando
contestadas acabam gerando enormes conflitos, especialmente, entre pais e
filhos adolescentes.
Além da
propaganda, diversos outros conteúdos, plausíveis para adultos esclarecidos,
como a violência, por exemplo, mas que causam enorme dano para mentes em
formação ou personalidades frágeis, são em função do lucro e respaldadas por
uma liberdade de expressão, diuturnamente explorados.
Setzer (2000a,
2000b e 2009) analisa diversos inconvenientes da televisão, principalmente às
crianças, tais como: excesso de peso, obesidade e outras doenças típicas do
sedentarismo, problemas de atenção e hiperatividade, agressividade e
comportamento antissocial, medo e depressão, intimidação a colegas (bullying),
indução de atitude machista, diminuição gradual dos sentimentos, indução à
dementalidade de que o mundo é violento e violência não gera castigo. Com isso
geram prejuízos para a leitura, provocam diminuição do rendimento escolar e
prejuízo para a cognição, propiciando a possível confusão entre fantasia e
realidade, o isolamento social e a problemas de relacionamento. O aceleramento
do desenvolvimento pode gerar prejuízo para a criatividade, tendência ao
autismo, a problema de vícios, indução ao consumismo, condicionamento e não
informação, paralisia mental, indução de mentalidade de competição e ao final a
destruição da vida familiar. Inevitável será resultar em falta de ritmo e sono
saudável, a uma indução de impulsividade e negatividade e admiração pelas
máquinas, dentro de mentalidade materialista e mercantilista. Setzer (2012,):
Quem tem os
olhos e a mente bem abertos pode observar algo muito importante: a tecnologia
está destruindo a natureza e o ser humano. Uma das maneiras mais seguras de
destruir esse último é destruir a mente das crianças e adolescentes, e é
justamente o que a Internet, junto com os outros meios eletrônicos, está
fazendo, [...].
As mídias em
tela, televisão, videogames, computador, mais especificamente, a internet,
cujos efeitos sobre o cérebro ainda estão sendo estudados, mas já é notório que
apesar de algumas dessas mídias agilizarem o pensamento, elas primam por
torná-lo descontínuo, saltitando entre imagens e informações, ampliando o
efeito da compartimentalização já decorrente da ciência cartesiana. Também Carr
(2011, p. 285), infere que o nosso cérebro assimila as ferramentas externas que
usamos como mais um dispositivo a seu dispor e incorpora-as a seu cotidiano, e
escreve:
O preço que
pagamos para assumir o poder da tecnologia é a alienação. O tributo pode ser
especialmente alto com as tecnologias intelectuais. As ferramentas da mente
amplificam e por sua vez amortecem as mais íntimas, as mais humanas das nossas
capacidades naturais – aquelas da razão, percepção, memória e emoção.
Em princípio, o
controle tanto das mídias como do mercado em prol do bem comum deveria ser
exercido pelo Estado. A democracia, considerada a menos pior das formas de
governo, vem se expandindo quantitativamente. No entanto, Morin (2013, p. 81)
nos adverte:
Não basta que
uma democracia seja instaurada após a queda de uma ditadura. A democracia é um
sistema frágil que crises graves podem arruinar e que demanda um longo
enraizamento histórico para se consolidar. As crises das democracias preparam o
terreno para as ditaduras, mas, felizmente, as crises das ditaduras preparam o
terreno para as democracias [...].
Falando a
respeito da ineficácia das ações planejadas a partir da ECO-92, Grow Harlem
Brundtland, em entrevista, (RODA VIVA, 2005,) declara:
O problema é a
falta de comprometimento e, como disse, a falta de planejamento a longo prazo e
da perspectiva de longo prazo do governo. Isso é um grande desafio para a nossa
democracia porque, mesmo agora, vemos que em alguns países diminui a
participação nas eleições. As pessoas não estão participando do processo
eleitoral. Estão se distanciando, se sentindo excluídas, ou com preguiça,
dependendo. Há todas as variantes. As nossas democracias não são vigorosas o
bastante. Não estão ativamente impulsionadas pelas pessoas em geral, para um
benefício de longo prazo delas e das próprias famílias, dos filhos e dos netos.
Estamos em grandes dificuldades. Temos esses desafios da humanidade e não
conseguimos achar os caminhos que possam levar às mudanças certas no tempo. É
um grande problema. Não tenho a solução.
Morin (2001, p.
112) já alertava:
Nessas
condições, impõe-se as sociedades reputadas como democráticas a necessidade de
regenerar a democracia, enquanto, em grande parte do mundo, se apresenta o
problema de gerar democracia, ao mesmo tempo em que as necessidades planetárias
nos reclamam gerar nova possibilidade democrática nesta escala.
Capitalismo e
mercado, iniciativa privada, interesses individuais, vem trabalhando em prol de
um estado menor, mais fraco, permitindo-lhes maior espaço e oportunidades, e
liberdades ou liberalidades.
Pode-se repetir
aqui as palavras de (HAWKEN; LOVINS; LOVINS, 2004, p. 265): “Elevar os
objetivos do comércio acima da transparência e da responsabilidade que a
democracia exige, acabará por destruir pelo menos uma destas instituições,
quando não as duas.”
Outro aspecto a
incomodar as democracias é as desigualdades, incluindo-se a econômica ou dela
derivadas, tanto entre regiões, como entre países e até internamente entre
regiões de um mesmo país, ou até entre bairros de uma mesma cidade.
Presentes em
maior ou menor grau ao longo do tempo e do espaço, atribuídas as mais diversas
causas, desde o determinismo geográfico, étnico, cultural, ao possibilismo, às
características institucionais e até a mera expropriação do mais fraco pelo
mais forte, agravam-se na modernidade como coloca Morin (2013, p. 142):
A mundialização
reforça a desigualdade por toda parte. Entre seus efeitos negativos, indicamos:
o crescimento do desemprego e do subemprego e o o empobrecimento. A distância
entre os que podem aproveitar as oportunidades oferecidas pela mundialização e
os que dela são excluídos aumenta em todos os níveis. Um quinto da humanidade
consome (e produz) sozinho os quatro quintos da riqueza mundial. Essa
mundialização é a origem do agravamento do destino de populações vulneráveis.
Independentemente
das causas, as soluções extrapolam aos estados mas não à democracia, como
continua Morin (2013, p.143):
Em resumo, o
problema das desigualdades tornou-se enorme e continua múltiplo; exige uma
política ampla e complexa. Voltamos a repetir que essa não pode ser uma
política tecnoburocrática de homogeneização, destruidora das diversidades que
constituem as riquezas culturais da humanidade.
Após apresentar
algumas sugestões de algumas ações globais e outras locais no âmbito das
nações, Morin (2013, p.144) argumenta:
O triplo
imperativo político liberdade-igualdade-fraternidade deve ser articulado. Isso
porque, a liberdade, sozinha, destrói a igualdade, a igualdade imposta destrói
a liberdade, e a fraternidade, que não poderia ser imposta, depende da
combinação de um conjunto de reformas políticas (entre elas, as casas de
solidariedade, o serviço cívico de solidariedade), de reformas educativas e de
reformas individuais (entre elas, a reforma de vida e a reforma ética). [...].
Desse modo, a redução progressiva das desigualdades deve efetuar-se
simultaneamente por meio de uma política planetária (política da humanidade,
política de civilização), por meio de políticas nacionais, que reduziriam as
diferenças de níveis de vida, regenerando as solidariedades, combatendo a
corrupção e, finalmente, por meio das reformas de vida e das reformas éticas
que favorecem a compreensão das misérias e das infelicidades do próximo.
A fraternidade
não pode ser imposta, conforme o texto acima, portanto não pode ser exigida por
lei e em consequência está fora do âmbito político do Estado e sem ela não
haverá compreensão das misérias e das infelicidades do próximo.
As religiões
sempre desempenharam papel salutar nesta área, mas sua competência vem se
esvaziando ao longo dos últimos séculos, conforme nos informa o mesmo autor
(MORIN, 2013, p. 26):
As religiões,
que, graças aos avanços da laicidade, haviam regredido, estão progredindo em
detrimento dela, mas elas mesmas estão em crise, pois, divididas entre
modernismo e conservadorismo, atormentadas por conflitos internos entre cultos
rivais, mostram-se mais do que nunca incapazes de assumir seus princípios de
fraternidade universal.
Silvio L.
Sant’Ana (2005, p. 14) escreve que o “surto neo-pentecostal, com sua “teologia
da prosperidade”, propagada sobretudo pela ação espetacular da Igreja Universal
do Reino de Deus” ameaça, depois de séculos, a hegemonia cultural católica no
Brasil.
Esta
perspectiva teológica voltou-se para os bens materiais, saúde, prosperidade,
felicidade, relegando a espiritualidade, aproveitando os desejos criados pela
propaganda, reforçando o círculo vicioso do consumo que já vimos.
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