Por: Lareitov Cândido
Parece que não, mas o momento é
assustador. Procure conversar um pouco, ou ao menos preste atenção ao que se
fala sobre política, educação, saúde, segurança, futuro, justiça, escola,
professor, família, felicidade, realização, fama..., enfim, se você não se
assustar, cuidado, você pode estar confundindo a vida moderna com Fake News.
“Existe um tipo de experiência
vital — experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das
possibilidades e perigos da vida — que é compartilhada por homens e mulheres em
todo o mundo hoje. Designarei esse conjunto de experiências como “modernidade”.
Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria,
crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor — mas ao
mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que
somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras
geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia:
nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é
uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num
turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de
ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como
disse Marx, “tudo o que é sólido desmancha no ar” (BERMAN, 1997, p. 15). Não
compreender minimamente esse momento histórico de estar no tempo, estar no
mundo, estar num espaço de relações que se constroem e se reconstroem
ininterruptamente, pode nos trazer, e está trazendo, grandes prejuízos sociais,
políticos e existenciais. Pode-se, de forma as vezes extremistas, estar-se
buscando encontrar culpados; responsáveis; “bandidos”, quando na verdade o que
temos é um momento histórico, uma experiência de vida no tempo e no espaço, que
se for compreendido, debatido com tolerância humildade e inteligência, com
certeza conseguiremos superá-lo e sairemos fortalecidos, mais humanos e mais
humanizados. Preocupa ouvir e ver algumas pessoas pedindo a volta de regimes
autoritários, fascistas; afirmando, de forma até ingênua, que nas escolas
existe muita liberdade, “aluno tem que obedecer e não desrespeitar professor”
(desrespeito neste caso é questionar, dialogar), enfim, existe um forte
movimento reacionário, e só isso já basta para pensarmos que alguma coisa não
está bem.
Destarte, se confundirmos o
desafio do momento histórico com a “culpa dos outros”, e não nos dermos conta
de que muitos já não discernem mais o que é debate do que é fake news, podemos
estar destruindo século de lutas sociais, século de conquistas políticas, e
assim não perceber que “sem direitos sociais para todos, um número amplo e
provavelmente crescente de pessoas irá considerar seus direitos políticos de
pouco utilidade e indignos de atenção. Se os direitos políticos são necessários
para que se estabeleçam os direitos sociais, estes são indispensáveis para que
os direitos políticos se tornem reais e se mantenham em operação. (BAUMAN,
2013, p. 22). Tolere o debate amigo (a), suas verdades podem ser anacrônicas.
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