Meu filho de quatro anos disse que é, eca!










Por: Lareitov Cândido


Hoje fui indagado por um estudante do Ensino Médio, da forma mais sincera possível durante uma aula de história, sobre que importância tem um museu? Ele foi honesto, digno e verdadeiro. Disse-me:

  Professor, sei que a perda de um museu deve ser terrível. Mas qual a importância de um? Eu nunca fui levado a um museu. Nunca me disseram sobre a importância de um.

Fitei os olhos nele, e com a mesma honestidade tentei responder. Disse-lhe: amigo, obrigado por sua colocação. Tentarei dar uma resposta à sua pergunta. Marilena Chauí, eu disse para ele quem era, definiu violência assim: “violência, é toda violação física e psíquica, que se faz de um ser humano que é um ser pensante”. Ou seja, quando você, eu disse isso apontando para ele e para os colegas, sai de casa para vir estudar, aprender, compreender, transformar-se, ser sujeito, enfim, quando você sai de casa gerando uma expectativa em relação a escola, aos colegas aos professores a aula e, nada disso se concretiza, se realiza, se aproxima..., podemos concordar com Chauí e admitirmos que você foi violentado. Nesta perspectiva, não só você foi violentado, os professores que geram toda uma expectativa em relação a aula, a profissão; também são violentados. Perceba que não estou procurando culpados, nem apontando dedos. Estamos nos aprofundando de forma honesta na busca de um compreensão mais racional ao que se passa na dinâmica humana de ensino aprendizagem. Quando nos esforçamos para compreender a perda que significa o fim de um museu; quando tentamos fazer um exercício cognitivo sobre a falta que fará, e faz, o contato com um acervo de um grande museu; quando somos honestos em admitir que nunca fomos instigados a pensar na importância que representa um museu, e mesmo assim continuamos com a sensação de que não estamos conseguindo, acredite, amigo, uma importante etapa de nossa “formação” foi ceifada, foi aniquilada, foi ignorada. O pior é que você, jovem estudante de ensino médio, não tem culpa; não teve como se livrar disso, compensar isso, fugir disso. Se os adultos tiverem coragem de se comprometer, aqui refiro-me aos professores, pais, governos, quem sabe o futuro seja menos violentos com nossos estudantes.

Terminei minha fala dizendo: se um dia você vier para a escola, e quando aqui chegar se encher de apetência pelo conhecimento, pela companhia dos professores, dos colegas, dos livros, das aulas..., ao invés de sentir repulsa e uma vontade louca de ir para outro lugar, quem sabe perceberá que não está sendo violentado, pois estará sendo tratado como um ser pensante. E como um ser pensante, perceberá como é necessário conhecer um museu, um acervo, uma fonte histórica... Meu filho de quatro anos já vai para a escola, essa semana ele disse que a escola é, eca!    

              


Comentários