Por: Lareitov Cândido
Hoje fui indagado por um
estudante do Ensino Médio, da forma mais sincera possível durante uma aula de
história, sobre que importância tem um museu? Ele foi honesto, digno e
verdadeiro. Disse-me:
–
Professor, sei que a perda de um museu deve ser terrível. Mas qual a
importância de um? Eu nunca fui levado a um museu. Nunca me disseram sobre a
importância de um.
Fitei os olhos nele, e com a
mesma honestidade tentei responder. Disse-lhe: amigo, obrigado por sua
colocação. Tentarei dar uma resposta à sua pergunta. Marilena Chauí, eu disse
para ele quem era, definiu violência assim: “violência, é toda violação física
e psíquica, que se faz de um ser humano que é um ser pensante”. Ou seja, quando
você, eu disse isso apontando para ele e para os colegas, sai de casa para vir
estudar, aprender, compreender, transformar-se, ser sujeito, enfim, quando você
sai de casa gerando uma expectativa em relação a escola, aos colegas aos
professores a aula e, nada disso se concretiza, se realiza, se aproxima...,
podemos concordar com Chauí e admitirmos que você foi violentado. Nesta
perspectiva, não só você foi violentado, os professores que geram toda uma
expectativa em relação a aula, a profissão; também são violentados. Perceba que
não estou procurando culpados, nem apontando dedos. Estamos nos aprofundando de
forma honesta na busca de um compreensão mais racional ao que se passa na
dinâmica humana de ensino aprendizagem. Quando nos esforçamos para compreender
a perda que significa o fim de um museu; quando tentamos fazer um exercício
cognitivo sobre a falta que fará, e faz, o contato com um acervo de um grande
museu; quando somos honestos em admitir que nunca fomos instigados a pensar na
importância que representa um museu, e mesmo assim continuamos com a sensação
de que não estamos conseguindo, acredite, amigo, uma importante etapa de nossa
“formação” foi ceifada, foi aniquilada, foi ignorada. O pior é que você, jovem
estudante de ensino médio, não tem culpa; não teve como se livrar disso,
compensar isso, fugir disso. Se os adultos tiverem coragem de se comprometer,
aqui refiro-me aos professores, pais, governos, quem sabe o futuro seja menos
violentos com nossos estudantes.
Terminei minha fala dizendo: se
um dia você vier para a escola, e quando aqui chegar se encher de apetência
pelo conhecimento, pela companhia dos professores, dos colegas, dos livros, das
aulas..., ao invés de sentir repulsa e uma vontade louca de ir para outro lugar,
quem sabe perceberá que não está sendo violentado, pois estará sendo tratado
como um ser pensante. E como um ser pensante, perceberá como é necessário
conhecer um museu, um acervo, uma fonte histórica... Meu filho de quatro anos
já vai para a escola, essa semana ele disse que a escola é, eca!
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