Indecente é você ter que ficar despido de cultura... Cadê o museu?


Por: Lareitov Cândido

Não sei o que é pior: conversar com um néscio ou pensar que um apedeuta pode votar, por exemplo. Na verdade, há coisas bem piores. Chego a esta triste reflexão quando me deparo com notícias, diga-se de passagem, exploradas ao extremo da loucura pelos meios de comunicação, sobre a violência em nosso país, violência que não escolhe local, pois está nas escolas, nos estádios de futebol, nas ruas, nos discursos, no descaso com educação, prédios públicos, cultura, saúde, vida..., em todos os lugares. Cadê o Museu?

Perde-se tempo querendo dizer que os corruptos no Brasil são uns indecentes, que mesmo condenados não irão para a cadeia; perde-se tempo dizendo que as cotas para negros e pobres em universidades são indecentes e injustas; perde-se tempo argumentando-se contra a legalização do casamento gay ou da maconha... Enfim, perde-se tempo com tantas bobagens e não se percebe que nosso mais grave e real problema é a falta quase total de cultura. Sim, falta de cultura. Refiro-me à cultura como “simples” sofisticação de comportamento. A coragem de querer saber sobre humanidade, sobre ciência, sobre economia, sobre política, sobre livros (essas ideias tem em museus), para assim conseguir se colocar no lugar do outro. Para isso precisamos dos museus, teatros, bibliotecas, boas escolas, boas universidades... Talvez tenha sido esta a grande fraqueza do nosso sistema de educação: as pessoas não conseguem fazer um simples raciocínio sobre o que está acontecendo. A tragédia com o Museu, por exemplo. Quanta violência com nossa história, nossa cultura, nossas vidas. E acreditem, alguns dizem que não foi tão trágico assim. Estamos doentes, não percebemos mais a violência. Que medo! Ou alguém realmente acha que pagar gasolina a mais de quatro reais não é violência? Pagar universidade, plano de saúde, escola particular, passagem de ônibus, não é violência? Ou algum professor acha que ir para a escola, não ter e não ver objetivos claros e funcionais, não é violência? Ser rodado pelo conselho (soberano), que muitas vezes não consegue fazer uma avaliação criteriosa e profissional do estudante, não é violência? É! E é aí que entra a sofisticação cultural para compreender minimamente o mundo que nos cerca. Se você não compreende isso, amigo, você está despido de cultura. Não adianta ter estudado para ser professor, médico, engenheiro, advogado; não adianta fingir que está preocupado com o desastre no Museu, com a vida dos alunos, dos filhos, dos clientes, o que lhe falta é cultura, sofisticação...Pode-se ficar despido de roupas, despido de dinheiro, despido de qualquer coisa material, mas não se pode ficar despido de cultura! Do contrário, corre-se o risco de não se compreender algumas relações básicas das práticas humanas, e daí como podemos transformá-las? Como podemos condená-las? Como podemos ser agentes de mudança? Como podemos dar conselhos, no conselho de classe? Como podemos votar?  Cadê o Museu? Precisamos de leitura, estudo, livros, músicas, teatro, cinema, e o mais importante da sofisticação: racionalidade/razão! Se não tivermos um mínimo de reflexão, nada disso adianta. Veja bem, não é dinheiro que nos torna sofisticados, é a cultura! Sem cultura, “daí não tem jeito quando a coisa fica dura” (Pelado, UR).

Superaremos a tragédia com o Museu, não tenho dúvidas, como superaremos uma tragédia nas urnas no próximo mês, se nossa cultura política ficar no senso comum. No entanto a perda do Museu está me incomodando mais do que os estapafúrdios debates políticos para as próximas eleições. Falar de cultura, ou a falta dela, pode soar um tanto quando preconceituoso se não ficar claro a intenção única do raciocínio; ou seja, não tem futuro uma nação que ignore a importância de sua história e sua cultural relação com o passado da vida: plantas, povos pretéritos, formas de governos, fósseis, desenvolvimento econômico, político e social, escravidão... 



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