Formação humana



Por: Gisele Rezende 



De maneira a organizar a base teórica sobre Formação Humana elaborada na análise da obra cinematográfica, se faz necessário compreender a ideia de Complexidade na Condição Humana de Edgar Morin, e Formação Humana e Totalidade de Ivo Tonet. 


Edgar Morin é um francês fenomenologista responsável pela teoria da Complexidade. Teoria que contribuiu muito para se questionar a base teórica das praticas mais tradicionais de ensino que resumidamente estruturam, a fragmentação da ciência, visando fundamentar de maneira consistente o conhecimento técnico - cientifico. Na medida que a instituição escolar prima por este pensamento, distancia-se da compreensão do Todo, causando prejuízo as condições de possibilidade da formação humana. Segundo o autor, a apreensão do conhecimento deve ocorrer por meio das relações entre os diversos tipos de estudos possibilitando estabelecer uma conexão com a realidade. Ou seja, considerar as diferentes perspectivas que envolvem o objeto, “um conhecimento que não mutila o seu objeto” pois segundo Morin, 

o problema do conhecimento não deve ser um problema restrito aos filósofos, é um problema de todos e que cada um deve leva-lo em conta muito cedo e explorar as possibilidades de erro para ter condições de ver a realidade, porque não existe receita milagrosa. (MORIN, p.3) 

A compreensão de Realidade difere de Morin para Tonet quando esta não explicita a magnitude do capital, uma característica que já limita o diálogo entre os autores. O entendimento de Formação Humana aqui pretende considerar estas duas visões, uma fenomenológica e outra marxista não ajuizando que uma sobreponha a ideia da outra, mas como sugerem os autores, considerando a Totalidade. Preconiza-se que o leitor possa estabelecer suas relações e constituir sua consciência a partir dessa metodologia. 

Na análise deste filme considerou-se a proposta da educação interdisciplinar, pois seu método consiste na “construção de pontes” entre as diferentes áreas do conhecimento, estabelecendo assim uma similaridade entre eles. A postura utilizada todo o tempo para orientar os dois personagens centrais, não pode isentar-se no papel da formação humana, pois esta faz parte da condição humana e sua complexidade defendida por Morin. No entanto, se por um lado segundo ao autor, 

é preciso ensinar a unidade dos três destinos, porque somos indivíduos, mas como indivíduos somos cada um, um fragmento da sociedade e da espécie homo sapiens a qual pertencemos, e o importante é que somos uma parte da sociedade, uma parte da espécie, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe, a sociedade só vive dessas interações. (MORIN, p. 5) 


Por outro lado, a oposição a este pensamento esta na sua própria estrutura interna, segundo Tonet. Tanto não é possível conhecer o Todo em razão das nossas limitações humanas biológicas, como também a arquitetura das relações sociais cerceia nossas ações. Talvez seja esta a razão pela qual estruturamos nossa educação numa visão unilateral e temos dificuldade de fugir deste pensamento, concordando com a estrutura que prima em atender ao que rege o sistema econômico. A Realidade em Tonet, considera explicitamente este fator na compreensão da Formação Humana, e a instituição legitimada para contribuir com esta formação é a escola. 

Se o trabalho interdisciplinar pode auxiliar o aprendiz à uma consciência sensível ao ser humano, o que impossibilita esta postura? Entendendo aqui Interdisciplinaridade no conceito de Frigotto (1995), “para além de métodos e técnicas”, um fenômeno complexo, logo a aquisição de uma postura. De acordo com Tonet: 

Por seu lado, o aspecto espiritual da formação “integral” também sofre deformações. Isto por que, estando todo o processo de autoconstrução humana mediado pela propriedade privada de tipo capitalista, a própria formação espiritual não poderia escapar dessa lógica. (TONET, p.5) 

Ainda segundo ele: “Uma formação integral do ser humano, ..., é uma impossibilidade absoluta nessa forma da sociabilidade regida pelo capital”. Por mais que educadores instruam o aprendiz à uma consciência reflexiva, é preciso que ocorra uma emancipação humana num sentido mais amplo, totalitário, para pensar em reduzir o impacto do capital. 

Os dois pontos de vista têm sua relevância e embaraço, pois se em Tonet a Formação Humana assumiu o capital como iminente a sua espécie, estaremos fadados ao fracasso. Contudo pode se entender em Morin, que estamos nesta situação por que queremos. 



Referencias 





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