É bem mais fácil sensibilizar-se com a dor do que com a ideia








Por: Lareitov Cândido

Compreender minimamente o sentido da frase de Oscar Wilde, que dá título a este texto, é de extrema importância em tempos de eleição, extremismo religioso, escola sem partido, fake News..., enfim, em tempos sombrios.

Discursos apelativos, debates esquisitos, notícias sensacionalistas, desejo de retorno a um passado “tranquilo, “no lugar”, “sério”. A difícil tarefa de tentar entender o que se passa ao nosso redor; de se ter uma possibilidade de troca de ideias; um lugar onde se possa, sem se ser acusado/rotulado de qualquer coisa que nos faça desanimar do debate, de desistir de lutar, um lugar mais racional, parece estar ficando cada vez mais distante. Sala de aula, em muitas escolas, virou uma arena de batalha entre ciência e senso comum. Veja bem, eu não disse entre professor e aluno, porque não é mesmo. Eu disse entre ciência e senso comum. Lemos, toda semana, que em determinada escola ouve intervenção de “pais” contra doutrinação de seus filhos. Qual doutrinação senhores pais?

– Escola não é lugar para se falar de família... Esse professores são todos comunistas...

– Essas coisas de gênero, isso não é conteúdo. Meu filho tem que apreender a contar, a ler, os mapas, as datas, o que é uma planta....

– No meu tempo a gente aprendia de verdade. Estudava e respeitava os professores. Tínhamos respeito pela pátria, a gente marchava...

Senso comum. (Filos.): Conjunto de opiniões tão geralmente aceitas em época determinada que as opiniões contrárias aparecem como aberrações individuais. E ciência é um método de pesquisa baseado na faculdade racional do ser humano. Senhores pais e reaças de plantão, não dá para sair por aí acusando a democratização do conhecimento científico – papel da escola –   de doutrinação. Destarte deveríamos acusar, também, a economia, o esporte, a medicina... Se querem realmente participar da vida escolar de seus filhos procurem a escola para o debate. Participe das reuniões de pais. Converse com os professores de seus filhos educadamente sobre ideias. Proponha rodas de debates as escolas, mas não esqueça que escola não é lugar senso comum. Não vá para a escola com suas convicções, suas verdades. Leve suas pesquisas para a escola. Não tente sensibilizar com tragédias e lembrem-se: todos os corruptos que vemos por aí hoje marcharam, estudaram em escolas que se aprendia a contar, a ler, a escrever..., escolas que não se podia ter debates, discussões, opiniões de alunos...  

Atente-se, “os piores senhores eram os que se mostravam mais bondosos para com seus escravos, pois assim impediam que o horror do sistema fosse percebido pelos que o sofriam, e compreendido pelos que o contemplavam” (Wilde). Assim, amigos, se teu ídolo, teu candidato e teu líder espiritual sustentam sua “autoridade” dizendo que o mundo está violento, perdido, de pernas pro ar, nas mãos de bandidos, não esqueça, isso é papinho de senso comum, procure quem discute ideias.  

  

 

 

 

       


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