Por: Paula Cristina Mariot
1
Muitos estudiosos têm se
preocupado em apresentar definições para os termos feudalismo e capitalismo e
igualmente, traçar a trajetória histórica desses elementos. Contudo, distintas
conceituações, explicações, dados e fatos emergiram e permeiam essa discussão
ao longo do tempo.
As suas definições separam-se em
algumas vertentes que divergem em determinados pontos, se encontram
harmoniosamente em outros, mas acabam por circular nos âmbitos econômico,
político e social.
Dada a sua complexidade e
determinada configuração abstrata, a compreensão do que é, como opera e quando
passou a existir, seja o feudalismo ou capitalismo, é sempre árdua e está sujeita
a trabalhar em cenários nunca tão nítidos.
Esse sub capítulo se propõe a
apresentar o feudalismo e capitalismo como uma forma econômica mais ou menos
hegemônica. Ou seja, é possível encontrar no embrião de cada nova sociedade, características
da anterior, o que nos afasta da ideia de delimitar um corte na história para o
encerramento de uma matriz e nascimento de outra nova (DOBB, 1983).
Trata-se de reconhecer um
conjunto de marcas na sociedade que seja capaz de exprimir um novo estágio
ocorrido no processo de modificação histórica, que acaba na maior parte sendo
gradual e continua (DOBB, 1983).
Alguns fatores como, o aumento populacional,
de mercado ou produtividade, podem transmutar na história uma configuração de
processo continuo do desenvolvimento dos sistemas econômicos. Porém, as
denominadas revoluções sociais, por exemplo, podem causar uma ruptura de
determinado movimento na sociedade e, portanto, não podem ser ignoradas (DOBB,
1983).
Essa maneira de ler a história
como um processo gradual e continuo, não pretende ignorar tais pontos que
provocam ruptura em determinados fluxos históricos, nem mesmo, assumir que a
transição do feudalismo para o capitalismo possui caráter progressista.
Mas essa interpretação pode ser
perigosa, pois possui uma linha tênue com a ideia de que, então, o capitalismo
era inevitável e foi o progresso do sistema feudal, assumindo uma identidade
positiva que faz correlação com a evolução para melhor do modelo de organização
socioeconômico (DOBB, 1983).
Nesse sentido, percebe-se que,
os sistemas socioeconômicos se configuram homogêneos porque a sociedade está
constituída de tal forma que haja um equilíbrio dos seus elementos
constituintes centrais. Até hoje a história tem sido de uma sociedade dividida
em classes, isso tende a garantir a busca por mudanças que atendam as demandas
provenientes do simples desenvolvimento gradual e continuo, mas que preservem
ou ampliem o modo em que a classe dominante da época está organizada,
conservando assim, sua posição qualitativa. Isto é, não há uma evolução
progressista, mas a manutenção da sua configuração dominante face as exigências
das mudanças externas ao seu próprio controle (DOBB, 1983).
Ao analisar o feudalismo e
capitalismo, é possível se deparar com muitas características distintas, mas
com a conservação da sua unidade central, que basicamente, se concentra na
forma em que a classe dominante política e econômica lida com o modo de
produção e seu excedente (DOBB, 1983).
O desenvolvimento do
capitalismo, portanto, se classifica numa série de estágios com níveis
diferentes de maturidade. E de imediato, o estágio inicial é vinculado ao
aparecimento do comércio em larga escala e a classe mercantil, mas se falamos
de capitalismo como um modelo de produção, é preciso buscar o começo desse
período somente quando ocorre uma mudança no modo de produção, sob a
perspectiva da subordinação direta do produtor a um capitalista (DOBB, 1983).
Desse modo, diferente de alguns
historiadores que datam o início do capitalismo no século XII ou XIV, Maurice
Dobb defende que nesse período, se deu o declínio do feudalismo e o processo de
transição para o sistema capitalista, o qual teve sua consolidação com as
revoluções industriais datadas em momentos diferentes para cada região, mas com
destaque à revolução inglesa no século XVII, 1789 na França ou 1917 na Rússia
(DOBB, 1983).
Os capitalistas anteriores a
revolução industrial, são tidos como diferentes dos capitalistas posterior a
esse movimento, pois estes eram pioneiros de novas técnicas, muitas vezes
desprovidos de privilégios sociais e precisavam até, recorrer ao capital em
parceria com capitalistas mais antigos. Lutavam contra certos padrões estabelecidos
e buscavam o liberalismo econômico (DOBB, 1983).
A revolução industrial modificou
radicalmente a estrutura da indústria e afetou as relações sociais,
influenciando expressivamente as divisões de trabalho e transformando a relação
entre produtor e o próprio processo produtivo (DOBB, 1983).
A ênfase dessa interpretação
está em que as modificações no caráter produtivo e das relações sociais do
capitalismo e a partir deste, exercem uma influência mais profunda na sociedade
do que quando vistas a partir das relações comerciais. O que, por sua vez, não
descarta a importância desse fator, dado que, é no terreno mercantil que
acontece o aparecimento da classe burguesa e a diferenciação do campesinato em
camponeses prósperos e pobres, por exemplo (DOBB, 1983).
2
Como visto anteriormente, o
sistema capitalista é entendido como um modo de produção que organiza a
sociedade e sob essa mesma perspectiva, é entendido o feudalismo. Portanto, a
ênfase de sua interpretação está na relação entre o produtor direto (seja ele
artesão ou camponês) e seu superior imediato (DOBB, 1983).
O
modo de produção do feudalismo se caracteriza como servidão, ou seja: “uma
obrigação imposta ao produtor pela força, e independentemente de sua vontade,
para satisfazer certas exigências econômicas de um senhor, quer tais exigências
tomem a forma de serviços a prestar ou de taxas a pagar em dinheiro ou
espécies” (DOBB, 1983, pg. 34).
Contudo, vale ressaltar o contraste
entre escravidão e servidão, o qual para Marx, se dava através da pose dos
meios e condições de produção para realização do seu trabalho ou garantia da
sua própria subsistência tida pelo servo, que se posicionava como um produtor
independente. Enquanto que, o escravo trabalhava com meios e condições de
produção pertencentes a outrem (MARX, 1918).
Isto é, o servo possuía suas
terras ou materiais de produção que não podiam lhe ser roubados por quaisquer
medidas econômicas, mas sim, extraídos deles sob outros meios, ganhando outras
formas para permissão de tal prática (MARX, 1918).
Existe uma espécie de falsa liberdade
quando feita a comparação entre servidão e escravidão. O servo é dono de seus
meios de produção e paga ao seu senhor o excedente do que ele próprio produz,
entretanto, está condicionado a exigências superiores a suas possibilidades de
entrega, como taxas e impostos exorbitantes, ou obrigação de alocar sua força
de trabalho na produção do senhoril, bem como, da sua própria subsistência,
para além de suas limitações humanas. O escravo não detinha dos seus meios de
produção e além da sua força de trabalho, o seu próprio corpo era pertencente a
outro que não ele mesmo. Aparentemente, o servo progride nesse sentido, mas sua
liberdade continua condicionada ao poder dos seus superiores imediatos, os
deixando assim, numa posição muito similar ao da escravidão.
Durante o feudalismo a relação
de propriedade exercida pelo servo afirma-se em uma linha direta entre servo e
senhor, de modo que o servo (produtor), experencie a ausência da liberdade que
pode ser provocada desde o trabalho forçado até uma relação tributária, sempre
tendo essa ausência de liberdade protegida pela força coercitiva militar a
cargo do senhoril ou por leis jurídicas (MARX, 1918).
Nessa perspectiva, entende-se
que, o sistema feudal se apoia na relação entre proprietários de terras
(suseranos) e os servos (vassalos). Os suseranos arrendam terras aos vassalos
que em troca empregam sua força de trabalho para a produção agrícola destinada
a sua própria subsistência e a do seu senhor. Além da exploração da força de
trabalho, os vassalos estavam sujeitos a obrigações com impostos e taxas
cobrados pelo senhoril. Como exprimiu o autor francês Achille Luchaire (1846,
pg. 384):
“Para o cavaleiro ou barão, o camponês servo ou
livre, era apenas uma fonte de renda; em tempo de paz, eles o oprimiam tanto
quanto podiam, com impostos e corveias; em tempo de guerra, em território
estrangeiro, eles o pilhavam, assinavam, queimavam e esmagavam. (...) O
camponês era nada mais que uma criatura a ser explorada no país e destruída no
exterior.”
Porém, em meio a essa relação,
outras variáveis surgem, acrescentando determinadas práticas que dão novo
direcionamento ao funcionamento do sistema feudal. Por exemplo, propriedades
menores que dispunham de suprimentos servil insuficientes, podem ter
incentivado o arrendamento em dinheiro e o arrendamento para o cultivo da
propriedade do senhoril, o trabalho de homens livres assalariados (DOBB, 1983).
Ou como é mencionado por Dobb,
na cidade de Lle de Ré, os servos desertaram em massa devido a severa postura
do seu senhor, o qual foi obrigado a realizar algumas concessões para manter
alguns trabalhadores. Em paralelo, a necessidade de mão de obra aumentava e a
disponibilidade de servos diminua, gerando uma competição por aquisição e
retenção dos servos entre territórios vizinhos (DOBB, 1983).
Em meio a todo esse processo de
despovoamento, ocorreram as cruzadas; um movimento patrocinado pelas igrejas e
por senhores guerreiros que incentivava a migração do ocidente para o oriente
em busca da colonização. Nesse mesmo período, foi vivenciado a peste negra que
contribuiu para a despovoação (DOBB, 1983).
Além de, as técnicas aplicadas
no processo produtivo serem demasiadas simples, do próprio solo sofrer com a
exploração excessiva, havia um crescimento numérico da classe parasitária e
aumento da extravagância das famílias nobres. Esses fatores acabam por limitar
o crescimento e desenvolvimento ulterior do feudalismo (DOBB, 1983).
Outro fator interferente nesse
cenário é o comércio. Em qualquer tipo de sociedade, há a existência da
comercialização, por mínima que seja sua dinâmica. Na Europa Ocidental esse
quadro não era diferente. As rotas marítimas permitiam a existência do
intercâmbio de mercadorias com foco em algumas regiões que, futuramente, se
converteram em centros de comércio, como Genova (DOBB, 1983).
A comercialização se destinava,
basicamente, para o abastecimento de alguns desejos da classe nobre, atingia um
mercado restrito, mas que começava a caminhar com importação de tecidos e
especiarias do oriente e exportação de grãos e cereais. Com a abertura de novas
rotas, entre outros motivos, o comércio passa a ter maior representatividade e
culmina na ampliação de mercado. Essa nova configuração do comércio aliada ao
despovoamento ocorrido nas zonas rurais, obrigaram alguns senhores a repensar o
modo de gerir suas propriedades e produções. Assim, muitos começam a dar
preferência a uma relação contratual assalariada com os servos diante a
servidão propriamente dita, com o intuito de garantir produtividade suficiente
para atender a demanda emergente (DOBB, 1983).
Isso fez com que surgisse um
nova classe de camponeses (servos) mais bem sucedida em comparação a outros.
Alguns puderam acumular mais capital, tiveram colheitas melhor ou maior
aproveitamento da sua produtividade e acabavam por participar do comércio em ascensão
desse momento (DOBB, 1983).
Essa teia de motivos e
acontecimentos, especialmente entre o século XVI e XVII empurravam,
direcionavam ou determinavam novas condições de interações subjacentes no
sistema feudalista. Por sua vez, os detentores do poder, a igreja e os senhores
feudais com suas forças juristas e militares, manipulavam e buscavam meios de
conservar sua posição social.
Interesses políticos e
econômicos continham teor de resistência a mudanças e quando, por força maior, se
viam obrigados a comutar, a nova forma de operar era articulada a favor dos
interesses da classe dominante.
Contudo, o crescimento continuo
do mercado e dos centros comerciais impulsionou a migração das zonas rurais
para o que viria a se tornar as cidades. A circulação monetária cada vez maior,
oriunda das condições impostas pela troca da servidão por serviço contratual e
arrendamentos, foi solidificada no terreno urbano, onde camponeses
intercambiavam mercadorias e também contraiam empréstimos. E, é nesse mesmo
período que há a participação dos artesãos, que produziam e vendiam seus
produtos nas cidades sem estarem amarrados a um senhor.
Porém, Maurice Dobb, sustenta
sua tese que apesar desse quadro esboçar características que sugerem o início
do capitalismo, ainda não o é. Para ele, esse cenário se configura na
desintegração da estrutura do feudalismo.
“É verdade que o elemento comercial nutrido por
tais comunidades reunia em suas mãos os primeiros germes do mercantil e
prestamista, que mais tarde, seria empregado em grande escala, mas outros
instrumentos de acumulação que não uma simples tendência do tipo bola de neve
teriam de intervir antes que esse capital se tornasse tão dominador e ubíquo
como sucedera em séculos posteriores” (DOBB, 1983, pg. 59).
Vemos assim, o declínio do
sistema feudal mediante: a ineficiência da organização senhoril da produção; O
que significa dizer que, os bens manufaturados por artesões das cidades mais
próximas podiam ser comprados a custo mais baixo do que os produzidos nos
armazéns domésticos pelos servos nas casas do senhoril. Isso ocasionou numa
pressão para comprar e vender, alocando as propriedades feudais na conjuntura
da troca e não mais da produção para uso.
Em segundo lugar, a existência
do valor de troca que tende a mudar a atitude dos produtores. Estes passam a
visar o lucro não mais pela acumulação de bens perceptíveis, mas sob a forma
portátil do dinheiro ou ordens de pagamentos. “A pose da riqueza logo se tornou
um fim em si mesma na economia de troca (...)”, resultando numa transformação
psicológica de todos os envolvidos no ato de comercializar, desenvolvendo
assim, uma postura conhecida atualmente como “homens de negócio” .
O terceiro ponto é a evolução
dos desejos da classe feudal dominante. O aumento dos gastos com vestimentas,
armamento e alimentação quando comparado o período inicial versus final do
feudalismo, é notável e descrito nos estudos do autor francês Pirenne.
E por último, o desenvolvimento
das cidades, como centros de troca comerciais que despertam nos trabalhadores
camponeses a atração pela vida urbana sob a perspectiva de melhores condições
de ascensão.
Nesse sentido, as cidades não
surgem como corpos estranhos à estrutura feudalista, são originadas a partir de
iniciativas feudais, seja por meio de algumas instituições ou famílias
aristocratas que possuíam interesses políticos e, ou econômicos na constituição
dessas. Portanto, de algum modo, as cidades são um elemento da sociedade
feudal, mas aparecem no período de declínio desse sistema e dão espaço para
novas formas de interação que irão resultar no surgimento do capitalismo (DOBB,
1983).
3
Pode-se citar a maneira com que
determinada parcela da sociedade passa a executar o comércio, como uma das
novas formas de interação emergentes nesse momento. Pequenos produtores de
comunidades senhoris vizinhas repassam seus produtos para serem comercializados
no centro urbano (DOBB, 1983).
A desvinculação da matéria-prima
e o artesão, o aumento do número de servos livres que se tornaram proprietários
de pedaços de terra na cidade ou próximos a esta e as extravagâncias dos
senhores feudais, impulsionaram o surgimento da classe burguesa ou o sujeito
mercantil que age sob a ótica da compra por um valor baixo e revenda com margem
de ganho significativa (DOBB, 1983).
Contudo, há indícios de uma
espécie de manipulação através de leis ou manobras políticas para impedir a
concorrência e, assim, garantir o êxodo dos mercadores. Em algumas cidades,
quando o navio aportava, os comerciantes se reuniam para discutir preços e as
regras de negociação, impedindo a concorrência por meio de acordo prévio (DOBB,
1983).
As cidades com autonomia
comercial pressionavam e controlavam o comércio entre os territórios vizinhos a
fim de assegurar o poder de monopólio e vantagens próprias para uma classe mais
próspera de mercadores atacadistas (DOBB, 1983).
A classe burguesa responsável
pela intensificação da comercialização, normalmente era aliada a nobreza e
passa a exercer representativa influência na regulamentação do mercado e
administração das cidades (DOBB, 1983).
“O poder passou insensivelmente para as mãos dos
mais ricos. A forma de governo nesses centros de comércio e manufatura
inevitavelmente se modificou, primeiramente de democracia para plutocracia e
depois oligarquia” (PIRENNE, XXX, pg. 110).
Não
obstante, a classe burguesa se entrosou rapidamente com a classe nobre,
primeiramente, por vias econômicas, posteriormente, através de matrimônios
mistos, aquisição de títulos de nobreza e interesses políticos com a aceitação
de cargos ministeriais ou posições na corte dentro do formato antigo de estado
(DOBB, 1983).
Em
paralelo, o mercado continuava a crescer, o comércio estrangeiro prosperava,
aumentava-se a circulação de dinheiro e surgiam novas manufaturas, produtores
agrícolas, mercadores e operações como os empréstimos financeiros, oriundas
desse contexto. O capital mercantil floresceu juntamente com a classe burguesa
que se mesclava com os nobres e passava a contrair algumas de suas
características (DOBB, 1983).
“Esses novos homens tinham de ser agradáveis e
astuciosos: tinham de temperar extorsão com bajulação, combinar avareza com
lisonja e encobrir a dureza do usurário com as vestes de um cavalheiro. Tinham
pouco interesse pelo produtor, a não ser por sua submissão contínua, e pouca
consideração pelo sistema de produção, a não ser como fonte de suprimentos e
barata” (DOBB, 1983, pg. 113).
O sistema de produção
capitalista, é nesse sentido, retardado pela classe burguesa. Pois nesse
estágio de declínio do feudalismo e intensificação do comércio, o foco está
concentrado no lucro derivado da negociação de compra e venda, e não da
produção propriamente tida (DOBB, 1983).
Pode-se considerar esse momento
como o estágio inicial do capitalismo, em que o mercador era o homem que apenas
comercializava as mercadorias produzidas por camponeses ou artesões, o qual
mantinha uma relação externa ao modo de produção existente (DOBB, 1983).
4
Mais tarde,
no entanto, o capital mercantil passa a interagir com o modo de produção mais
estreitamente, a princípio, para explorá-lo mais eficientemente. Essa alteração
no formato da relação entre capital mercantil e modo de produção se deu, na
perspectiva de Marx, sob dois caminhos: o revolucionário – uma parte dos
próprios produtores acumulou capital e passou a comercializar sem estar
condicionado ou amarrado a algumas restrições impostas pela classe dominante.
E, o domínio de parte da classe mercantil sob a produção – que passam a tomar
posse e controlar diretamente a produção, (...) “ou seja, o crescente domínio
de um elemento puramente mercantil sobre a massa de artesão e a submissão
desses ao primeiro” (DOBB, 1983, pg. 90).
Ao mesmo tempo, surgem diversas novas
indústrias, como as de sabão, cobre, papel, bélico e também na mineração e na
fundição. Além de coincidir com grandes transformações das técnicas de produção
como resultado das invenções recentes. Desse modo, passa a ser exigido mais
capital de investimentos e, portanto, as empresas nesses setores são fundadas
por homens que se associavam e começam a empregar trabalho assalariado em
grande escala (DOBB, 1983).
Surgem
assim, novos sujeitos ao decorrer da transição do feudalismo para o capitalismo,
do servo pertencente ao senhor feudal ao servo livre, que se ramifica em
assalariado, pequeno produtor, artesão, mercador. Posteriormente, parte desses
se tornam o burguês que se mesclam com nobres. Em paralelo, alguns se
subdividem em mercador-fabricante ou mercador empregador.
A
dinâmica advinda das interações dos sujeitos com os fatores sociais, políticos,
econômicos e, expansão de mercado, existentes no contexto da época, acaba por
provocar uma mudança gradual da atenção que se afasta dos ganhos puramente
especulativos entre compra e venda para o controle da produção com melhor
aproveitamento. Se torna uma questão de tempo para passar de um crescimento
quantitativo para uma mudança qualitativa.
Isto
é, não há uma linha divisória com clareza do fim do feudalismo para o início do
capitalismo, mas o ponto em que surge a mudança qualitativa real está na
diferença do grau de controle que o mercador-comprador exerce sobre o produtor,
interferindo no número de produtores, nos seus métodos de produção e sua
localização. A partir do momento que esse controle passa a alterar o caráter do
modo de produção, aumentando sua produtividade, surge a mudança qualitativa
real (DOBB, 1983).
É
a subordinação da produção ao capital e a relação entre capitalista e produtor
que pode ser considerado o fator decisório na transição do feudalismo para o
capitalismo que será aprofundado em seguida com a revolução industrial, a qual
é responsável pelo grande aumento do poder produtivo do trabalho humano que lhe
está associado, se convertendo no amadurecimento do modo de produção do
capitalismo (DOBB, 1983).
Portanto, no estágio inicial do
capitalismo, processos de produção como os de fiação, tecelagem, e tinturaria
na fabricação de tecidos, encontram-se mais organizados em uma unidade, o que
ocasiona uma divisão de trabalho e de trabalhadores empenhados em distintos
elementos que compõe um produto acabado. Essa própria divisão do
trabalho, característica desse período, antecedeu a invenção mecânica que viria
a existir e a aprofundar a estrutura capitalista do modo de produção (DOBB,
1983).
“Como qualquer outro modo de produção definido,
condicionado a certo estágio de produtividade social e à forma historicamente
desenvolvida das forças produtivas. Esse pré-requisito histórico é em si mesmo,
o resultado histórico e o produto de um processo precedente, ponto básico de partida
para o novo modo de produção. As condições de produção correspondentes a esse
modo de produção específico, historicamente determinado, apresentam caráter
passageiro, específico e histórico.”( Capital. V. III, p. 1023-1024. Marx)
Comentários
Postar um comentário